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miércoles, 12 de junio de 2013

A mãe que imaginamos ser, o filho que imaginamos ter... e quando nada disso é "como era para ser"

É muito interesante acompanhar um casal gestante e lhes fazer a seguinte pergunta para responder pro escrito (podem, também vocês, fazê-lo na sua casa): "Como você imagina a sua rotina diaria com um bebê de 2 meses?". Pode ser, também, com uma criança de 1 ano, ou de dois anos, como quiser. A pergunta deve ser respondida em detalhe. É bom fecharmos os olhos e imaginar, de verdade, essa rotina desde a mesma hora em que acordamos. Onde estamos dormindo, com quem, que horas são, o que aconteceu essa noite prévia, o que vamos fazer primeiro ao levantar da cama e como, etc. E assim vamos passando por cada fase do dia. Quantos mais detalhes sobre cheiros, temperaturas, cores, estados de ánimo em cada momento, companhia ou não, lugares, horários, etc, melhor. Até a hora de dormir.



Depois, quando, de fato, o casal já está na fase que tinha descrito, lhe fazemos a mesma pergunta, só que neste caso querendo saber qual é a rotina real deles. E comparamos as respostas.

Geralmente, claro, tudo é bem diferente de como o tinhamos imaginado. É normal, não é uma falha nossa ter imaginado as coisas de forma totalmente diferentes. Mas é um exercício interessante, pois vemos que a nossa fantasia sobre como vão ser as coisas pouco ou nada tem a ver com como, de fato, elas são quando chega o momento.

Os nossos medos de "se eu fizer isto desta forma ou daquela outra posso criar um tirano, ou vou estar mais liberada", são só isso: medos. Fantasias negativas. Projeções prévias sobre as consequencias de ações atuais. Não ajudam em nada. Não sabemos se vai ser assim ou não. E vejo que, à hora de exercer a maternidade, os medos são num grande número de casos os que nos fazem tomar ou não tomar a maioria de decisões do nosso dia a dia. As mais transcendentais (desmamo ou não desmamo?) e as mais aparentemente sem importáncia ("acordo ele agora ou lhe deixo dormir mais?").

O medo cria as dificuldades, e não ao contrário

Quando estou com mães que agem com e guiadas pelo medo (a sociedade nos leva a isso, não é culpa delas), geralmente elas tem muitas mais dificuldades com a criação dos filhos. Tem mais "problemas": o bebê "demanda mamar sempre fora de hora e com demasiada frequencia", o bebê "não se relaxa para dormir", "não come o que deveria", "não aceita colo de outros", a irmã mais velha "não leva nada bem a presença do bebê e sente ciumes, está insuportavel", a mãe "não consegue fazer nada"... Tudo isso é considerado como problemas específicos dela, problemas que quer resolver, ou que quer conseguir emendar, porque "são assim porque deve ter agido errado".

Quando as mães agem desde a aceitação e a empatia, elas simplesmente agem. Não é que com elas não aconteçam todas essas coisas. Acontecem, de fato, da mesma forma. Mas para elas não são problemas, não são "consequencias de decisões ou ações erradas", não são coisas "a solucionar". Senão que essa mãe sabe e aceita que o bebê dela é muito demandante, e então ela passa o dia com a teta fora, lhe amamentando.

Ela sabe e aceita que às vezes ou em certa hora do dia o bebê fica mais irritado e é mais dificil lhe acalmar, então se arma de peciência (às vezes nem isso consegue) e tenta truques para amenizar o momento. Ela sabe e aceita que algumas crianças comem pouco, ou que o filho dela não aceita muitos alimentos, então confia em que, como está saudavel, algum dia irá ampliando a aceitação da comida. Ela sabe e aceita que para os bebês e crianças pequenas é dificil ir no colo de desconhecidos, ou pelo menos ir de boa, então o respeita e não o obriga.

Ela sabe que a filha mais velha está passando por um momento complicado pela chegada do irmão, então tenta entendê-la e sobreviver a esta fase dificil de ciumes, sem culpá-la. E ela sabe e aceita que, com um filho pequeno, ela consegue fazer muitas menos coisas das que antes de ser mãe conseguia, porque de fato ela passa o dia fazendo um monte de outras coisas: amamentar, trocar fraldas, dar colo, passear, ninar...

Tem mães que agem desde o medo, e outras que o fazem desde a aceitação. Os problemas ou difficuldades são os mesmos em ambos casos, mas enquanto para uma delas isso é sinal de algo "errado" que precisa ser resolvido, para a outra simplesmente é o momento atual da vida dela, e se adapta as circunstancias, sabendo que às vezes vai ficar dificil. Não vê erros o problemas em tudo o que não é como ela achava que seria, ou no que os outros (família, pediatra, vizinhas, amigas...) lhe dizem que deveria ser diferente. Vive a vida e as circunstancias dela, e age em consequencia do que ela é e do que ela quer.

Que tipo de mãe/pai você quer ser? O que você quer fazer?

Por isso eu recomendo tomar as decisões mergulhando no seu ser atual, no ser do seu filho, nas suas circunstancias nesse momento. E não condicionados com o que achamos que deveria ser, o com o que pensamos que isso vai significar. Isso só o saberemos quando chegar o momento. É o que, como coach parental, posso lhe ajudar a fazer.

Se está querendo tomar uma decissão, feche os olhos, pense nos motivos que te levam a pensar nesse tema, pense na sua situação atual (pode ir escrevendo tudo isso em um papel), pense em como você quer fazer essa mudança, como gostaria que acontecesse. Pense no que precisa para poder fazê-lo, procure-o e o faça.

Se quer saber o resultado de alguma ação, nada melhor que levá-la a cabo e ver no que da. Se não é o que esperávamos, podemos re-encaminhar as coisas de outra forma. O ser humano se adapta as circunstancias, é uma das nossas principais características. As coisas podem não sair como esperávamos. E daí? Então façamo-as de outra forma. O nosso filho também aprende com e disso.

O medo nos faz podar os nossos filhos

Quando, por medo -a não estar sabendo interpretar os sinais dele-, não amamentamos o nosso pequeno cada vez que ele resmunga e parece se acalmar mamando, estamos podando ele, estamos fazendo dele o que nós queremos que seja (um bebê que se satisfaz com menos mamadas, por exemplo).

Quando, por medo -a que não aprenda a dormir, tenha 6 mese, 2 anos ou 5-, deixamos ele chorando ou triste, sozinho no quarto, estamos podando ele, lhe dizendo que ele não deveria querer ou precisar da nossa companhia para dormir. E se ele precisa dela porque lhe resulta gostosa? E se ele gosta dela porque lhe faz sentir aconchego na hora de dormir? E se ele desfruta terrivelmente dessa companhia porque durante o dia, na escola, sente muitas saudades? Isso está errado? Acaso não deveria? Você acha que ele nunca vai conseguir dormir sozinho porque agora te comunica que gosta da sua companhia e fica triste ou chateado se fica sozinho? Ou é que ele simplesmente sabe reconhecer o que sente e se sente livre para comunicar isso para você, porque sabe que não vai ser reprimido por sentir isso nem por expresá-lo abertamente?

Quando, por medo -a que não aprenda a comer como é devido-, obrigamos o nosso filho a terminar a comida do prato, ou a comer aquela fruta que ele nunca quer, estamos podando ele. Estamos lhe dizendo que ele não deve interpretar os sinais so proprio corpo, senão obedecer os que nós lhe marcamos.

Perder a essência de quem ele é, e não poder recuperá-la

Quando o medo impera nas nossas decisões como pais, estamos podando os nossos filhos. Talvez não lhe pareça grave. Talvez ele simplesmente vá mamar mais em cada mamada e demandar a cada mais tempo; vá se conformar com que hora de dormir não é hroa de estar acopanhado e vá saber que comida é para comer, mesmo não gostando dela. Pode não ser tão grave. Mas eu pessoalmente acho muito triste is perdendo a essência do que o nosso filho é, porque vai chegar uma hora em que sim, poderemos intuir o que ele é, mas nos será impossível identificar o que realmente ele é dessa pessoa que se manifesta na nossa frente, e o que é resultado das nossas podas.

Em cambio, quando nos limitamos a acompanhar o nosso filho pelo caminho que ele escolhe, lhe dando a mão quando ele precisa dela, lhe orientando quando não é recomendavel pular aquela rocha ou fazer aquele buraco onde outros poderiam cair. Quando nos limitamos a ver e admirar qual é o passo que ele da por eleição própria, sem interferir na escolha. Quando não temos medo das escolhas dele, nem de no que elas vão dar. Quando aceitamos que o controle não é nosso, senão que apenas acompanhamos, ajudamos, acolhemos, orientamos uma pessoa com controle proprio sobre a propria vida, o resultado é digno de admirar: uma pessoa que é o que é, em esência pura. E que sabemos que ela é assim porque nós não a fizemos assim, não a levamos a ser assim, não a indicamos que o caminho era aquele. A plenitude que se sente, como mãe, acredito que é inigualavel.

Respeitar e renunciar ao controle não significa falta de limites

Obviamente, como falei, estamos aí para lhes dizer quando um passo pode lhe trazer consequências (se pula essa rocha pode se machucar ou não ter como voltar), ou quando não é adequado fazer alguma coisa de uma determinada forma (se cava esse buraco outra pessoa pode cair chegando no mesmo caminho depois de você). Mas em essência, lhes deixamos ser a pessoa que eles são.

É duro olhar para o seu filho e se perguntar: "Você é assim, ou eu te fiz assim?" "Quem é você, em essência?" "Teria sido assim se eu não tivesse insistido tantas vezes em que...?". É liberador e te enche de orgulho olhar para o seu filho e pensar: "Amo como você é, sei o que você é e queiro seguir te conhecendo a cada dia". É impossivel não exercer influencia nenhuma sobre eles, pois é.

Sempre vão levar parte da nossa essência impregnada na deles. Mas daí a podar há um longo caminho, e quando tomamos decisões com medo, provavelmente estaremos podando, e não impregnando com a nossa essência.

Elena de Regoyos para MamaÉ
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