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sábado, 22 de junio de 2013

O poder da tribo, muito além das mães

Muito vem sendo escrito já sobre a importancia da "tribo" para o exercício da maternidade nesta sociedade individualista e apressada na qual vivemos, onde a família não mora mais ao nosso redor,  as amigas não tem tempo para "se dar", pois devem cuidar também delas proprias no mesmo ritmo frenético, no mesmo isolamento social; e as nossas vizinhas não conformam mais aquela rede de apoio e amizade que maternava a mãe nos anos em que ela devia maternas os filhos.



Ao mesmo tempo, se sucederam algumas décadas de feminismo mal entendido (desde os anos '60 e '70), onde o que se preconizava não era a defesa da essência -e da livre escolha- das mulheres em um mundo dominado por homens, senão a necessidade das mulheres sermos o mais similares possivel aos homens para poder aspirar a exercer o poder tal e como eles o exerciam até então (e ainda). Esta anulação da mulher e da maternagem tradicional é, ao meu ver, um dos fatos históricos recentes mais prejudiciais para a sociedade, para as mulheres em geral, para as mães (a maternagem) em particular e para as crianças principalmente. Para os adultos de amanhã.

Não amamentar "para não sermos escravas dos filhos dia e noite"; não carregar no colo "para eles não se acostumarem a nosso contato e assim não o demandarem e as mães podermos nos afastar deles sem choros, e portanto, com a conciencia tranquila"; levá-los à escolinha o antes possivel "para a gente recuperar a nossa mal entendida independência e assim voltar ao trabalho a produzir para benefício de outros, dos chefes, da empresa"; não ceder às birras ou demandas deles "para eles não se acostumarem a serem levados em consideração e, assim, aprenderem em que mundo -duro, depredador e impessoal- vivem, se resignarem a ele e deixarem de reclamar aquilo do que precisam".

Somos produto do sistema, para sermos mais facilmente manipulaveis por ele

Mulheres, portanto, que não são escravas dos filhos, mas que são escravas do empresário que lhes emprega e paga, ou do que a sociedade lhe fez acreditar que ela "devia ser" e que, portanto, elas mesmas se cobram.  Se liberaram? Do que?

Crianças que aprendem que não são importantes, por não serem escutadas, atendidas como precisam e nem tidas em conta. Isso faz, sim, mães "livres" para trabalhar para o empresário de turno, e também crianças resignadas a não receber o que naturalmente estão feitas para receber, todas aquelas coisas que fizeram, durante milhões de anos de história da humanidade, sobreviver e evoluir a espécie. Serão futuros adultos que aprenderam, desde o berço, a não lutar por aquilo que queriam, porque raramente obtiveram resultados quando usaram as ferramentas ao seu alcançe: chorar, reclamar, se recusar a fazer alguma coisa...

Se choravam de noite pedindo companhia ou colo lhes deixaram claro que de nada adiantaria esse pedido, não seriam escutados. O resultado não é criança que aprende a dormir, senão criança que aprende a não pedir. Criança resignada, futuro adulto resignado e sem fê na força dele. Eles aprenderam a não pedir aquilo que a natureza deles lhes disse que precisavam: calor humano, companhia, colo, empatia... de dia e também de noite. Se se recusavam a beijar àquela vizinha, amiga da mãe ou tia distante, eram obrigadas a engolir a vergonha e a desconfiança perante o desconhecido, e a forçar um ato com o proprio corpo que, em teoria, deveria ser algo sincero, carinhoso e, principalmente, voluntário.

Se se negavam a compartilhar um brinquedo por estar brincando nessa hora com ele, eram obrigados a fazê-lo não se respeitando a si mesmos (o brinquedo é deles, e o estão usando nessa hora). Se não sentiam mais fome, eram forçados a comer "mais um pouco", ou inclusive a terminar o prato de comida. Se caiam no chão e se machucavam o joelho eram treinados para não chorar, porque esse machucado "não é nada". E se choravam ou "faziam manha" ao serem deixados na escolinha, vendo a mãe ir embora sem ele, eram instados a ignorar a tristeza que sentiam, a não mergulhar demais nas emoções, a não pedirem explicações nem expressarem o seu malestar e revolta com aquilo, e levados rápida e carinhosamente para se divertir com os amiguinhos cantando musiquinhas alegres e muito fofas.

Treinados e (mal)educados assim, serão pessoas que conformarão sociedades à mercé dos poderes político e económico, sem autoestima, sem fé na força que tem, sem acreditar que devem e podem, sim, se incomodar com o que lhes incomoda e demandar as mudanças necessárias para obter aquilo do que precisam.

A contrarevolução do feminismo

No meio de tudo isso vem com força surgindo, estes últimos anos, movimentos de mulheres que defendem e curtem o "ser mulher" com tudo aquilo que não as faz melhores nem piores que os homens, senão únicas perante eles, poderosas na sua essência de mulher. Mulheres escolhendo livremente o seu caminho, mulheres se permitindo exercer de mulheres, gozando da gestação, parto e criação dos filhos, amamentando e não por isso anuladas pessoal nem profissionalmente. Muito pelo contrário, muitas delas descobrindo novas profissões compatíveis com a maternidade, ou differentes formas de exercer a que já exercíam, sem por isso renunciar aos prazeres da maternagem.

Estas mulheres geralmente fazem parte de redes de mais mulheres empoderadas ou "em proceso de" se empoderar, como elas mesmas. Umas escutam as outras, se ajudam entre si, trocam idéias, sentires e dicas. Se reunem, se ajudam e conversam sobre amamentação, sobre a criação dos filhos, sobre elas mesmas e sobre outros muitos temas alheios à maternagem também. Fazem pic-nics, se inscrevem ou promovem cursos de ioga, shantala, dança ou canto conjunto e até organizam grupos de trabalho para que, enquanto a maioria cuida das crianças na casa de alguma delas, outras aproveitam para trabalhar, escrever, estudar ou o que cada uma precise fazer, em um quarto contiguo, desde o qual poder voltar para atender o filho se ele precisa.

Mas, sobre todo, sobre todo e principalmente, o que fazem estes grupos é não criticar e nem julgar, provocando um aumento na autoestima destas mães, que tomam decisões conscientes e informadas desde o respeito do grupo.

Que viva a tribo!

A tribo nos faz ganhar não só amigas, senão às vezes comadres e até irmãs de coração. Pessoas que estão presentes, que nos escutam, ajudam e apoiam, e as quais escutamos, ajudamos e apoiamos na fase da vida provavelmente mais intensa, poderosa, mas também vulneravel das nossas vidas (aquela fase em que gestamos, parimos e criamos filhos pequenos). Os laços que se criam são quase de sangue, de sangue de parto, de sangue de mãe!

A tribo nos ajuda a nos empoderar, a tribo nos oferece e pede respeito, a tribo ajuda a nos informar com evidências científicas, a tribo substitui quase qualquer terapia psicológica, a tribo nos vê e ouve chorar e gargalhar com as histórias mais íntimas e sinceras jamais contadas. A tribo acolhe. A tribo liberta.

A tribo faz com que os nossos filhos ganhem, também, a propria tribo deles, que é a mesma. Se criam com crianças respeitadas, como eles são. Eles crescem vendo outras crianças "grandes" amamentadas, e não ganham caras de asombro quando se fala em "dormir na cama dos papais", ou se aparecem de fralda com 3 anos. Eles raramente são obrigados a beijar ninguém e são consolados quando caem e se machucam (mesmo sem "machucado").

A tribo oferece possibilidades de um monte de atividades conjuntas, pois aí onde as famílias se sentem acolhidas, é onde querem estar. Por tanto passeios, festinhas de aniversário, encontros no parque ou até em manifestações. Cursos, oficinas, workshops, atividades focadas ao bem-estar, ao lazer. Emprendimentos e parcerias novos, surgidos da tribo (cafés para famílias com crianças pequenas, lojas de brinquedos de madeira e não sexistas que fomentam valores positivos, aulas de dança com bebês e tantas outras!).

Mas, por cima de tudo, a tribo te faz livre. Livres as mães e pais de serem as mães e pais que querem e escolhem ser. Livres os filhos, consequencia da liberdade dos pais. Livres os adultos que virão a ser, consequencia das crianças que foram. Livre a sociedade, se lograrmos ser cada vez mais!

E você? Faz parte de alguma "tribo" de mães? O que tem trazido ela para você? O que significa na sua vida?

Lembre-se que o blog se alimenta dos seus comentários, e eles fazem as postagens muito mais ricas!

Texto da Elena de Regoyos, para MamaÉ
Não reproduzir sem autorização
 
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jueves, 13 de junio de 2013

De babywearing, amamentação e outros ítens do attachment parenting em caso de doença

Amamentar, dormir grudadinhos, dar colo... Estes e outros ítens do attachment parenting são sempre gostosos e beneficiosos para os nossos filhotes. Mas quando eles ficam doentes, aí sim, sem dúvida alguma, o attanchment parenting ajuda à criança se sentir bem melhor e se recuperar antes... Facilitando, inclusive, a nossa vida!

De tarde, ela começou dar sinais de que algo não estava bem. Queria colo e mais colo, sendo que ela já anda e gosta de ficar geralmente mais livre pela casa. Como era quase permanente a demanda de colo, peguei um sling para carregá-la, e assim não ficar só no braço, me cansando e até doendo a coluna.
 
Escolhi o wrap porque é o portabebê que mais aconchegada deixa ela, por se adaptar perfeitamente a cada centímetro do seu corpinho, abraçando-a (nos) gostoso. Ela topou na hora, adorou a idéia e ficou bem apoiadinha em mim, se nutrindo do contato com a minha pele e a minha proximidade.



 
Passou a noite febril, na cama comigo, mamando quase a toda hora.
No leite materno tem imunoglobulinas, que a ajudam a se defender dos virus que a estivessem atacando. Por isso a demanda dela aumentou.
 
Por outro lado, o aconchego do contato da mãe pertinho, cuidando de você e te acalentando, é muito necessário e reconfortante quando estamos doentes, inclusive adultos, com o marido, por exemplo, não é?

 
A manhã seguinte a passamos da mesma forma, aconchegadas, grudadinhas, nos sentindo, abraçadas pelo wrap. Ela se deixava carregar, era exatamente do que precisava. O sistema imune fica fortalecido quando estamos calmos e nos sentindo protegidos. Em cambio, sob uma situação de stress, o sistema imune se debilita.
 
 
Chegou a hora de preparar almoço, pois os meninos iam chegar da escola, e nesse estado de fraqueza ela não tolerava estar senão no colo. O wrap, assim como a maioria de portabebês (sling de argolas, mei tai, canguru ergonômico...), oferecem a possibilidade de carregarmos o filho nas costas, o que é mais adequado para cozinhar, pois assim temos boa visão do que estamos fazendo (cortar legumes, temperar, etc) e sem perigo da criança se queimar com oleo espirrando, por exemplo.
 
Continua em contato, sentindo o nosso corpo, o nosso embalo-movimento, ouvindo a nossa voz... ao mesmo tempo que nos permite continuar com os afazeres iprescindíveis (os outros ficam relegados para um dia de menos demanda da filhota!).
 


 
Ela, com febre, não estava querendo comer práticamente nada. Sorte que o meu leite é garantido pois ela nunca rejeita, e estando doente até demanda bastante mais (minha produção começou bombar!). Dessa forma eu sei que ela está alimentada, hidratada e até sendo imunizada a travês dele. Sempre é um alívio.
 
Depois do nosso almoço, no conforto e a segurança do colo do pai, ela adormeceu de novo. O contato com outro corpo ajuda a se termoregular (manter a temperatura adequada), e em caso de febre isso sempre é beneficioso. Por isso a cama compartilhada, nestes casos, tem mais sentido ainda.
 
 
Para ir no centro médico, à tarde, eu escolhi o mei tai. Ele é quase tão aconchegante quanto um wrap, só que mais rápido e prático na hora de colocar e tirar, o que me ajudou para sair do carro (com mais dois filhos), entrar no prédio com as mãos livres para levar a bolsa, pegar a senha, esperar o nosso turno jogando o jogo da velha com os meninos...
 
Tudo isso sem deixar de lhe dar a minha filha aquilo do que mais estava precisando: o meu calor, o meu contato, a minha proximidade, a minha segurança e até o meu peito. Ela estava abraçada, protegida daquele ambiente que nunca é o mais agradavel nem apropriado para uma criança (doente menos ainda), e dormiu até a nossa vez de ser atendidas.
 
As provas que da para fazer com eles no colo, sempre é preferivel fazê-las assim, pois eles estão vulneraveis, sensíveis, delicados, e se sentem mais seguros em contato com a mamãe. Se sentindo seguros no colo, ou em contato com a gente, o médico consegue fazer muitas coisas das que precisa para ver o que a criança tem. Pois mesmo agindo no maior mimo (alguns, escolhidos a dedo, por desgraça não todos), ele não deixa de ser alguém geralmente estranho que "invade" o seu corpo com aparelhos, mãos e olhares, e pode ser estressante para a criança.
 
 
Se o contato físico (dia e noite), a empatia e o leite materno -assim como o que a amamentação implica de carinho, aconchego e segurança- são sempre bons e beneficiosos para os nossos filhos, com certeza quando eles estão doentes isso se torna algo quase imprescindível.
 
Elena de Regoyos para MamaÉ
Proibida a reprodução sem autorização

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miércoles, 12 de junio de 2013

A mãe que imaginamos ser, o filho que imaginamos ter... e quando nada disso é "como era para ser"

É muito interesante acompanhar um casal gestante e lhes fazer a seguinte pergunta para responder pro escrito (podem, também vocês, fazê-lo na sua casa): "Como você imagina a sua rotina diaria com um bebê de 2 meses?". Pode ser, também, com uma criança de 1 ano, ou de dois anos, como quiser. A pergunta deve ser respondida em detalhe. É bom fecharmos os olhos e imaginar, de verdade, essa rotina desde a mesma hora em que acordamos. Onde estamos dormindo, com quem, que horas são, o que aconteceu essa noite prévia, o que vamos fazer primeiro ao levantar da cama e como, etc. E assim vamos passando por cada fase do dia. Quantos mais detalhes sobre cheiros, temperaturas, cores, estados de ánimo em cada momento, companhia ou não, lugares, horários, etc, melhor. Até a hora de dormir.



Depois, quando, de fato, o casal já está na fase que tinha descrito, lhe fazemos a mesma pergunta, só que neste caso querendo saber qual é a rotina real deles. E comparamos as respostas.

Geralmente, claro, tudo é bem diferente de como o tinhamos imaginado. É normal, não é uma falha nossa ter imaginado as coisas de forma totalmente diferentes. Mas é um exercício interessante, pois vemos que a nossa fantasia sobre como vão ser as coisas pouco ou nada tem a ver com como, de fato, elas são quando chega o momento.

Os nossos medos de "se eu fizer isto desta forma ou daquela outra posso criar um tirano, ou vou estar mais liberada", são só isso: medos. Fantasias negativas. Projeções prévias sobre as consequencias de ações atuais. Não ajudam em nada. Não sabemos se vai ser assim ou não. E vejo que, à hora de exercer a maternidade, os medos são num grande número de casos os que nos fazem tomar ou não tomar a maioria de decisões do nosso dia a dia. As mais transcendentais (desmamo ou não desmamo?) e as mais aparentemente sem importáncia ("acordo ele agora ou lhe deixo dormir mais?").

O medo cria as dificuldades, e não ao contrário

Quando estou com mães que agem com e guiadas pelo medo (a sociedade nos leva a isso, não é culpa delas), geralmente elas tem muitas mais dificuldades com a criação dos filhos. Tem mais "problemas": o bebê "demanda mamar sempre fora de hora e com demasiada frequencia", o bebê "não se relaxa para dormir", "não come o que deveria", "não aceita colo de outros", a irmã mais velha "não leva nada bem a presença do bebê e sente ciumes, está insuportavel", a mãe "não consegue fazer nada"... Tudo isso é considerado como problemas específicos dela, problemas que quer resolver, ou que quer conseguir emendar, porque "são assim porque deve ter agido errado".

Quando as mães agem desde a aceitação e a empatia, elas simplesmente agem. Não é que com elas não aconteçam todas essas coisas. Acontecem, de fato, da mesma forma. Mas para elas não são problemas, não são "consequencias de decisões ou ações erradas", não são coisas "a solucionar". Senão que essa mãe sabe e aceita que o bebê dela é muito demandante, e então ela passa o dia com a teta fora, lhe amamentando.

Ela sabe e aceita que às vezes ou em certa hora do dia o bebê fica mais irritado e é mais dificil lhe acalmar, então se arma de peciência (às vezes nem isso consegue) e tenta truques para amenizar o momento. Ela sabe e aceita que algumas crianças comem pouco, ou que o filho dela não aceita muitos alimentos, então confia em que, como está saudavel, algum dia irá ampliando a aceitação da comida. Ela sabe e aceita que para os bebês e crianças pequenas é dificil ir no colo de desconhecidos, ou pelo menos ir de boa, então o respeita e não o obriga.

Ela sabe que a filha mais velha está passando por um momento complicado pela chegada do irmão, então tenta entendê-la e sobreviver a esta fase dificil de ciumes, sem culpá-la. E ela sabe e aceita que, com um filho pequeno, ela consegue fazer muitas menos coisas das que antes de ser mãe conseguia, porque de fato ela passa o dia fazendo um monte de outras coisas: amamentar, trocar fraldas, dar colo, passear, ninar...

Tem mães que agem desde o medo, e outras que o fazem desde a aceitação. Os problemas ou difficuldades são os mesmos em ambos casos, mas enquanto para uma delas isso é sinal de algo "errado" que precisa ser resolvido, para a outra simplesmente é o momento atual da vida dela, e se adapta as circunstancias, sabendo que às vezes vai ficar dificil. Não vê erros o problemas em tudo o que não é como ela achava que seria, ou no que os outros (família, pediatra, vizinhas, amigas...) lhe dizem que deveria ser diferente. Vive a vida e as circunstancias dela, e age em consequencia do que ela é e do que ela quer.

Que tipo de mãe/pai você quer ser? O que você quer fazer?

Por isso eu recomendo tomar as decisões mergulhando no seu ser atual, no ser do seu filho, nas suas circunstancias nesse momento. E não condicionados com o que achamos que deveria ser, o com o que pensamos que isso vai significar. Isso só o saberemos quando chegar o momento. É o que, como coach parental, posso lhe ajudar a fazer.

Se está querendo tomar uma decissão, feche os olhos, pense nos motivos que te levam a pensar nesse tema, pense na sua situação atual (pode ir escrevendo tudo isso em um papel), pense em como você quer fazer essa mudança, como gostaria que acontecesse. Pense no que precisa para poder fazê-lo, procure-o e o faça.

Se quer saber o resultado de alguma ação, nada melhor que levá-la a cabo e ver no que da. Se não é o que esperávamos, podemos re-encaminhar as coisas de outra forma. O ser humano se adapta as circunstancias, é uma das nossas principais características. As coisas podem não sair como esperávamos. E daí? Então façamo-as de outra forma. O nosso filho também aprende com e disso.

O medo nos faz podar os nossos filhos

Quando, por medo -a não estar sabendo interpretar os sinais dele-, não amamentamos o nosso pequeno cada vez que ele resmunga e parece se acalmar mamando, estamos podando ele, estamos fazendo dele o que nós queremos que seja (um bebê que se satisfaz com menos mamadas, por exemplo).

Quando, por medo -a que não aprenda a dormir, tenha 6 mese, 2 anos ou 5-, deixamos ele chorando ou triste, sozinho no quarto, estamos podando ele, lhe dizendo que ele não deveria querer ou precisar da nossa companhia para dormir. E se ele precisa dela porque lhe resulta gostosa? E se ele gosta dela porque lhe faz sentir aconchego na hora de dormir? E se ele desfruta terrivelmente dessa companhia porque durante o dia, na escola, sente muitas saudades? Isso está errado? Acaso não deveria? Você acha que ele nunca vai conseguir dormir sozinho porque agora te comunica que gosta da sua companhia e fica triste ou chateado se fica sozinho? Ou é que ele simplesmente sabe reconhecer o que sente e se sente livre para comunicar isso para você, porque sabe que não vai ser reprimido por sentir isso nem por expresá-lo abertamente?

Quando, por medo -a que não aprenda a comer como é devido-, obrigamos o nosso filho a terminar a comida do prato, ou a comer aquela fruta que ele nunca quer, estamos podando ele. Estamos lhe dizendo que ele não deve interpretar os sinais so proprio corpo, senão obedecer os que nós lhe marcamos.

Perder a essência de quem ele é, e não poder recuperá-la

Quando o medo impera nas nossas decisões como pais, estamos podando os nossos filhos. Talvez não lhe pareça grave. Talvez ele simplesmente vá mamar mais em cada mamada e demandar a cada mais tempo; vá se conformar com que hora de dormir não é hroa de estar acopanhado e vá saber que comida é para comer, mesmo não gostando dela. Pode não ser tão grave. Mas eu pessoalmente acho muito triste is perdendo a essência do que o nosso filho é, porque vai chegar uma hora em que sim, poderemos intuir o que ele é, mas nos será impossível identificar o que realmente ele é dessa pessoa que se manifesta na nossa frente, e o que é resultado das nossas podas.

Em cambio, quando nos limitamos a acompanhar o nosso filho pelo caminho que ele escolhe, lhe dando a mão quando ele precisa dela, lhe orientando quando não é recomendavel pular aquela rocha ou fazer aquele buraco onde outros poderiam cair. Quando nos limitamos a ver e admirar qual é o passo que ele da por eleição própria, sem interferir na escolha. Quando não temos medo das escolhas dele, nem de no que elas vão dar. Quando aceitamos que o controle não é nosso, senão que apenas acompanhamos, ajudamos, acolhemos, orientamos uma pessoa com controle proprio sobre a propria vida, o resultado é digno de admirar: uma pessoa que é o que é, em esência pura. E que sabemos que ela é assim porque nós não a fizemos assim, não a levamos a ser assim, não a indicamos que o caminho era aquele. A plenitude que se sente, como mãe, acredito que é inigualavel.

Respeitar e renunciar ao controle não significa falta de limites

Obviamente, como falei, estamos aí para lhes dizer quando um passo pode lhe trazer consequências (se pula essa rocha pode se machucar ou não ter como voltar), ou quando não é adequado fazer alguma coisa de uma determinada forma (se cava esse buraco outra pessoa pode cair chegando no mesmo caminho depois de você). Mas em essência, lhes deixamos ser a pessoa que eles são.

É duro olhar para o seu filho e se perguntar: "Você é assim, ou eu te fiz assim?" "Quem é você, em essência?" "Teria sido assim se eu não tivesse insistido tantas vezes em que...?". É liberador e te enche de orgulho olhar para o seu filho e pensar: "Amo como você é, sei o que você é e queiro seguir te conhecendo a cada dia". É impossivel não exercer influencia nenhuma sobre eles, pois é.

Sempre vão levar parte da nossa essência impregnada na deles. Mas daí a podar há um longo caminho, e quando tomamos decisões com medo, provavelmente estaremos podando, e não impregnando com a nossa essência.

Elena de Regoyos para MamaÉ
Proibida a reproodução sem autorização