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martes, 22 de noviembre de 2011

CAISM... Hospital Amigo das Crianças?

O CAISM, aqui em Campinas, é um Hospital Amigo das Crianças. Este é um título difícil de conseguir pelos hospitais. Eles têm que cumprir uma série de requisitos rigorosos para que a UNICEF lhes outorgue o título. O CAISM está cheio de cartazes pelas paredes indicando que eles cumprem com esses requisitos. Você passeia por essa maternidade e não vê mais do que cartazes promovendo o aleitamento materno (exclusivo até os 6 meses e depois combinado com outros alimentos até os 2 anos como mínimo, tal e como indica a OMS), inclusive com atrizes famosas nas fotos.

Os folderzinhos que eles repartem na consulta do pré-natal são rigorosos com as normas para garantir um sucesso no aleitamento materno, e vão preparando à mãe desde a gravidez para acreditar em que essa é a melhor opção. Insistem na livre demanda, na inexistência de “leite ruim” ou crenças como “eu tenho pouco leite”, incidem na importância do primeiro contato rápido e constante mãe-bebê após o nascimento para ele começar mamar quanto antes e recomendam a assistência a grupos de apoio devidamente informados sobre amamentação. Até aí tudo ótimo.

Hoje eu fui à minha primeira consulta de pré-natal no CAISM, e saí revoltada.
Reuniram a um grupo de umas 8 mães que iniciávamos o pré-natal lá em uma sala onde uma enfermeira ia nos informar de algumas coisas. Ela deu para todas nós um folder com informações corretas sobre amamentação e falou um pouco sobre isso. Disse que o melhor para o bebê é o leite materno, ao que uma das mães grávidas, que a partir de agora será denominada “mães de gêmeas” expôs:

-Precisamente por isso eu estou preocupada, pois sei que o meu leite é o melhor, mas sendo que estão vindo duas bebês, será que eu consigo amamentar?

(Trata-se de uma mãe de mais de 40 anos que já tem 5 filhos aos quais amamentou até quase o primeiro ano de idade).

A enfermeira diz:

-No seu caso não vai dar certo, você vai ter que complementar com mamadeira, como mínimo.

Eu não consigo me conformar com que em um Hospital Amigo das Crianças seja dada uma resposta absurda deste tipo a uma mãe com desejo de amamentar às suas filhas gêmeas, e interrompo:

-Eu gostaria de te indicar uma entrevista que eu fiz à uma amiga mãe de gêmeas que amamenta não só a elas, senão também à sua terceira filha, nascida quase 4 anos depois. Talvez o depoimento dela te interesse e transmita a confiança necessária para tentá-lo, pois o seu corpo esta preparado para isso. Uma ajuda profissional para resolver dúvidas e inseguranças seria muito apropriada no seu caso, e eu me ofereço a fazê-lo pessoalmente, de forma gratuita.A enfermeira me espeta:

-Não concordo com isso, você esta criando falsas expectativas e se ela não conseguir vai se sentir frustrada e até culpada.

Explico que só pretendia ajudar oferecendo o depoimento de uma mãe que conseguiu, como muitas outras também podem, mas depois opto por permanecer calada.

A mãe de gêmeas pergunta se ela terá leite suficiente e a enfermeira responde:

-O único que vai você fazer aumentar a produção de leite é tomar muita água, só se você tomar muita água, entre 2 e 4 litros por dia, vai ter leite suficiente. Mas isso não garante que vá ter para as duas, viu?

Eu fico impressionada com o fato de um Hospital Amigo das Crianças terem uma profissional tão absolutamente desinformada no relativo à amamentação, que não fala da importância da livre demanda, de que a produção se estabelece em função da demanda do (ou dos) bebê(s), que se têm um bebê que demanda muito e você garante esse abastecimento quando ele pede, o seu corpo vai produzir leite suficiente para ele, e se em lugar de um são dois bebês demandando, o corpo também vai dar resposta a esta demanda, sempre e quando você coloque às bebês para mamar cada vez que elas peçam. Ela não falou de prolactina, de oxitocina... Não, ela falou de água como um milagre produtor de leite, e depois concluiu que “nem isso garante uma produção suficiente, principalmente no seu caso, que são gêmeas”.

Mas eu já tinha optado por escutar e calar. Depois em privado ofereci o meu cartão para a essa mãe, no caso dela querer uma ajuda com a amamentação das filhas dela.

Uns quinze minutos depois a enfermeira começa fazer a ficha de cada uma, na frente das outras (o que considero constrangedor, pois continha perguntas tão pessoais e íntimas como: “a sua gravidez foi buscada ou foi um susto?”, “Você ainda esta com o papai do bebê?”). Na hora da mãe de gêmeas, ao perguntar pela idade dela, ela responde: “44 anos, sou a avó grávida” e começa tremer de vergonha pela confissão da idade dela (previamente tinha me comentado em baixinho que estava sofrendo muita ansiedade em esta gravidez porque não a esperava, e tinha vergonha de estar com essa idade com a barriga crescendo, precissando até de ajuda psicológica). Depois disso, ela não consegue nem responder o numero de telefone nem endereço, explicando que se sentia muito nervosa pela entrevista que estava realizando em esse momento.

A enfermeira pergunta:

Enf- Amamentou os seus outros filhos?

Mãe de G- Sim.

Enf- Quanto tempo?

Mãe de G- Algo menos de um ano, não sou muito de ficar amamentando crianças algo maiores.

Enf- Está ótimo, nem precisava de mais.

(Eu também acho bom que uma mãe chegue até o primeiro ano, ou menos ainda, se é o desejo real e informado dela, como parecia o caso).

Outra mãe comenta:

Mãe 1- Eu conheci uma mãe que amamentava ao filho com 4 anos!

Mãe 2- Isso para quê?

Enf- Não é necessário em absoluto fazer isso.

Mãe 1- Claro que não! Se ela já toma mamadeira e comida, para quê continuar pendurada no peito?

Mãe 2- Então para quê?

Mãe 1- Por besteira da mãe.

Enf- Por carência da mãe.

É um Hospital Amigo das Crianças...

Continuo calada, escutando com uma mistura de raiva e pena.

Quando a mãe de Gêmeas sai da sala, vira para mim e me pisca um olho. “Obrigada”, eu penso, e acredito que ela ainda vai conseguir.


Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e assessora parental 
-Consultora de slings e amamentação
www.mamaedoula.blogspot.com
Tlf (Br) +55 19-9391 4134 / Tlf (Esp) +34 696 08 25 21

lunes, 21 de noviembre de 2011

Apresentação do meu TCC em Psicodrama. “Ausência de ‘tribo’: a solidão das mães puerperais na sociedade atual”

Queridas mães da Tribo MamaÉ, esta quinta-feira 24 de novembro de 2011 terá lugar a minha apresentação do TCC que venho realizando como finalização do meu curso de especialista em Socio-Psicodrama durante os últimos dois anos.

Será às 20h no IPPGC (endereço especificado no folder anexo). O tema do mesmo é o seguinte:

“Ausência de ‘tribo’: a solidão das mães puerperais na sociedade atual”

 Como algumas de vocês contribuíram de forma ativa à realização deste trabalho a través de grupos de trabalho ou depoimentos, e com certeza muitas outras podem se sentir identificadas com o tema tratado no mesmo, fico feliz de convidar a todas à citada apresentação. Para mim será muito emocionante contar com o seu apoio em um dia tão especial.

O Psicodrama é um método de trabalho com indivíduos e/ou grupos que reúne técnicas da psicologia e do teatro, com o objetivo de ajudar às pessoas a terem um maior autoconhecimento, melhorando também as suas capacidades para enfrentar situações críticas. Acredita no poder de toda pessoa para gerar respostas espontâneas e criativas -adequadas ao contexto e não determinadas pelas 'conservas culturais' da sociedade-, precisando só de algumas ferramentas adequadas para chegar em isso, que o Psicodrama pode garantir.

Um forte e carinhoso abraço a todas. Espero vocês lá!
(Clickar para ver em grande)

lunes, 7 de noviembre de 2011

Desfraldar ou não desfraldar... Essa é a questão. Como, quando e por que tirar a fralda dos nossos filhos

Pois é... chegam os dois aninhos, ou antes até, e as amigas, cunhadas, avôs e resto da sociedade (inclusive as professoras de escolinha) começam nos pressionar, mais uma vez, sim, como ao longo destes primeiros dois anos de mães, com a retirada da fralda dos nossos filhotes. Antes foi com “até quando você vai de mamar para ele no peito”, e o “Ainda dorme no seu quarto?”, sem esquecer do “você fica demasiado tempo com ele no colo”. Pois bem amiga... chegou a hora da fralda.

Pegue ar e se prepare, que a competição chegou de novo. O seu entorno “maternal” vai te bombardear com frases do tipo “meu filho com “x” meses já controlava o xixí”, “meu menganinho foi terrível, ele não me avisava nunca e eu tinha que ir atrás dele perguntando a toda hora se queria fazer cocô ou não, ao final ele sempre fazia nas calças, um horror”, ou “aproveite agora que esta calor, e assim é mais fácil”.

E a criança? O que ela têm a dizer em isto? No final das contas, não é um processo dela? Não tem a ver com a maduração dela como pessoa? Não têm a ver com a suas vontades e capacidades adquiridas ou não? Vamos decidir NÓS quando ela deve começar segurar o xixí ou o outro, só porque a filha da fulana já esta controlando ou porque agora é bom momento para mim?

Controlar os esfíncteres, ao igual que comer alimentos de adulto, caminhar ou falar, faz parte da evolução da criança. Não podemos forçar elas a fazer essas coisas antes delas estiverem prontas para fazê-lo, porque só vamos conseguir resultados como: frustração, stress, culpa e tristeza. De quem? Nossa, sim, é claro, mas principalmente da criança, acredite.

Não podemos ensinar a controlar os esfíncteres, isso não se ensina, isso se adquire (como o falar, o caminhar ou o engolir sólidos). É um processo gradual, demorado e lento. E o fato de ter deixado as fraldas com 18 meses, 2 anos ou 3 e meio não vai influenciar ao desenvolvimento da criança, nem às propriedades intelectuais dela na vida adulta. Ninguém vai lhe perguntar na faculdade quando ele aprendeu a falar ou a controlar o xixí.

Tendo definido uma idade "normal" de 2 anos para o controle da bexiga, criamos um problema principalmente para os nossos filhos.
Bem na segunda metade do segundo ano de vida (ou seja, após o ano e meio), alguns bebês podem começar a perceber quando eles têm uma fralda suja, ou mesmo quando "eles estão fazendo". Este é um grande avanço, mas é só o primeiro de um processo lento que pode levar cerca de dois anos, resultando em finalmente um controle do intestino e da bexiga. Reconhecer que "já fiz" não quer dizer que ele já saiba se antecipar a "quando eu vou fazer", e menos ainda a controlar se fazê-lo ou não fazê-lo.

Esperar para o verão

Use o verão para remover a fralda é uma conveniência dos adultos. Então, incluímos no mesmo “saco” à criança de um ano e meio, a de 2 e a de 2 e meio também. E começa essa “maravilhosa” fase de perseguir incansavelmente às crianças perguntando se elas querem fazer xixi, eu tocando a roupa delas, sentando-as no vaso sanitário sem conseguir nada. Passamos horas preciosas de comunicação nesta nova escala de valores onde o mais importante, colocando alegre ou triste a mãe, é "se ele fez ou não fez."

O estágio de aquisição de controle esfincteriano dos nossos filhos inclui, sim, o prazer das crianças serem capazes de decidir, pela primeira vez, se eles seguram o seu xixi ou cocô, e fazê-lo onde e quando quer, a demarcação de uma zona de autonomia maravilhosa para experimentar. É um lugar de poder onde se decide, e faz com que eles liberem este prazer da capacidade de fazer coisas por si mesmos.

E de noite?

O controle noturno merece um capítulo à parte. Apesar de uma criança controlar perfeitamente os esfíncteres durante o dia, pode demorar muitos meses até mesmo ser capaz de fazê-lo à noite. Costuma-se dizer que, depois de várias noites com uma fralda seca, o bebê está pronto para dormir sem ele.

Ao pensar sobre isso, é importante observar que:

-A criança deve concordar e saber exatamente o que está acontecendo, o que se espera dela ("já que você esta amanhecendo sequinho, você quer tentar dormir sem fralda? Eu coloquei um plástico sob o lençol para que você não se preocupe se você fizer xixi. Se quiser a gente testa, senão pode ser mais para a frente").

-Como qualquer processo, o controle do intestino e da bexiga não é linear, mas haverá muitos altos e baixos. Isso é parte do que é esperado e, o mais importante de tudo, nossos filhos sabem que os acompanhamos em este processo e que vamos esperar o tempo que for preciso.

É muito importante o reforço positivo ("que legal, você conseguiu, eu estou orgulhoso de você", etc). Sob nenhuma circunstância é aceitável que desafiemos a criança, a humilhemos ou ridiculizemos comparando-a com outros amigos ou familiares. É importante lembrar sempre que não há nada que ele possa fazer para controlar, ele vai controlar quando estiver pronto para isso.

Não voltar para trás? Regressão?
É muito freqüente isso de “uma vez retirada a fralda, não pode voltar atrás pois confunde a criança”. Sob o meu entender, o que confunde à criança e ficar insistindo em uma coisa que ela não esta pronta para afrontar. O que confunde à criança é a falta de compreensão da mãe, do pai ou o cuidador que for, que exige dela uma coisa que ela não pode ainda fazer, e que não pode voltar para atrás “porque senão confunde à criança”.

Respeitemos os nossos filhos, deixemos que eles nos mostrem o caminho quando se trata do desenvolvimento deles mesmos, confiemos em que eles adquirirão todas essas capacidades, no tempo que for adequado para eles, e cuidemos para não esperar mais deles do que eles podem nos oferecer.

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Elena de Regoyos - MamaÉ Slings
-Doula e assessora parental
-Consultora de slings e aleitamento materno

http://www.mamaedoula.blogspot.com/
Tlf Brasil: +55 19-9391 4134 Tlf España: +34 696 08 25 21