Páginas

lunes, 20 de mayo de 2013

Usos desaconselhados e potencialmente perigosos do sling ou porta-bebê

Foto: mamaememima (Não é de uso livre)
Por Elena de Regoyos, jornalista, doula, assessora de amamentação, proprietaria de www.mamaememima.com e co-criadora da formação Bebê no Pano.
Por favor, cite fonte e link original para compartilhar.


Os portabebês ergonômicos são uma magnífica ferramenta para podermos continuar com os nossos afazeres e atividades diários, sem deixar de oferecer ao nosso bebê aquilo do que ele mais precisa
: o nosso calor corporal, o nosso cheiro de mãe, o contato com a nossa pele, a proximidade com o peito para se alimentar, a nossa voz, o nosso embalo, os nossos batimentos cardíacos... Tudo aquilo com o que ele já estava acostumado desde os tempos do útero. Todo aquilo que lhe faz sentir seguro, cuidado e feliz.

Os benefícios do babywearing são muitos, mas devemos prestar atenção à forma em que fazemos uso deste lindo recurso, pois não é de qualquer forma que seria aconselhado carregar os bebês ou crianças dentro deles.


COMO INDICAMOS CARREGAR UM BEBÊ OU CRIANÇA?



A posição que indicamos para carregarmos um bebê ou criança desde o mesmo dia em que nasce (até prematuros) é a chamada “posição de sapinho” (ou fisiolôgica, com o bebê em agrupamento, lembrando a posiçõ fetal, verticalmente), que é a posição do método mãe canguru. Nessa posição, as pernas dele ficam flexionadas como se ele estivesse acocorado, é a posição fetal, que iremos respeitar sem forçar em absoluto abertura de pernas. Os joelhos ficam mais altos que o bumbum, aproximadamente à altura do umbigo dele, e as pernas ficam formando um “M” junto com o bumbum (canelinnha-bumbum-canelinha). A bacia é basculada para a frente.


Nessa posição, a coluna se curva naturalmente em forma de “C”, o que a protege de esforços que a musculatura deles ainda não podem exercer. Ao longo do primeiro ano de vida vai ir se formando a curva ou lordose cervical na coluna deles, e depois, até os 7 anos, firmando a posição bípede, se formará a curva ou lordose lombar.

O tecido deve segurar o bebê desde atrás de um joelho até atrás do outro joelho (as duas coxas e o bumbum inteiros!), como quando nós mesmos sentamos em uma rede, e deve também estar suficientemente tensionado em todos os pontos, se adequando à forma do bebê, para garantir uma sujeição adequada e firme, sem forçar. O portabebê deve manter a criança bem próxima da gente, nos permitindo deixar de segurá-la com os braços porque o proprio portabebê o segura na altura (que a gente possa dar um beijo na testa deles só abaixando o nosso rosto) e com a firmeza que os nossos próprios braços o fariam. Sem ficar frouxo nem baixo.

Uma posição alternativa para carregá-los (principalmente para amamentá-los no sling, voltando depois à posição de sapinho) é a posição semi-sentados. Não é horizontal, senão que o portabebê segura eles lateralmente, sentados com as canelinhas também livres (o tecido vai desde atrás dos joelhos até a cabeça).

Formas de carregar que que não indicamos

1. BEBÊ DEITADO NO PORTABEBÊ














-O maior perigo desta posição é pelo risco de sufoco: No sling devemos verificar sempre que o queixo do bebê esteja separado do peito dele (cabeça “erguida”), para as vias respiratórias, a traquéia, permanecer sempre aberta. Isso piora quando o bebê é carregado deitado, horizontal, em slings de argolas ou pouchs dobrados ao meio, fazendo algo assim como um “envelope” que envolve o bebê, o que resulta duplamente perigoso por cobrir o rosto dele com o tecido. O bebê fica lá dentro numa posição potencialmente perigosa e coberto por tecido.

-Resulta, também, desconfortável para o adulto, pois nessa posição o bebê geralmente fica baixo com respeito ao nosso centro de gravidade e não está “encaixado” na nossa fisiologia, como acontece nas posições ergonômicas, o que nos faz curvar a coluna para compensar, gerando dor.

-Deitado, horizontal, ele não exercita mínimamente a musculatura cervical, e pode ter também maiores problemas de refluxo ou falta de eliminações de gases, o que é favorecido na posição vertical.

Veja como passar da posição fisiolôgica vertical à posição de amamentar, em um sling de argolas, com recém nascido real:



Passar a posição de amamentar na cruz envolvente com um wrap tecido:



Amarração canguru na frente com wrap tecido, posição para amamentar:




2. BEBÊ OLHANDO PARA A FRENTE




-Olhando para a frente o bebê ou criança fica sobre-exposto, sem nenhum tipo de filtro, sem olho no olho com a gente, a todos os estímulos do ambiente, que nas sociedades em que geralmente vivemos não são precisamente escassos, podendo resultar altamente estressante. Ele não tem como dizer “chega”, apoiando o rosto no nosso colo, olhando nos nossos olhos ou dando um cochilo. Inclusive, se ele adormece olhando para a frente fica com a cabeça pendurada para a frente, sem apoio.

-É impossível carregar um bebê ou criança na posição adequada de agrupamento, se o levamos olhando para a frente, portanto ele vai ir ou totalmente esticado verticalmente (veja a informação sobre este ponto depois) ou na posiçõ "de Buda" (também pode ver considerações sobre ela depois), o que não lhe beneficia em absoluto, ao nosso entender.

A alternativa para carregar eles com uma maior visão do mundo seria fazê-lo no quadril, o que lhes permite ver o mundo sem perder a posiçõ adequada e nem a referência do nosso colo para apoiar o rostinho ou dar uma soneca; ou com uma amarração alta nas costas:






3. BEBÊ NA POSIÇÃO DE BUDA



-Frequentemente vemos indicações desta posição para poder atender a demanda social de carregar o bebê olhando para a frente.

Posição “de sapinho” não é igual a “posição de Buda”, e nem tanto faz.

Na posição de sapinho o bebê está sentado no tecido, com o peso no bumbum, e deixa as pernas com livre movimentação, sem exercer nenhuma pressão em nenhuma das articulações do seu corpo. Enquanto que na posição de Buda já estamos forçando a flexão e tensão das pernas. Uma flexão, por outro lado, que nada tem a ver com a de sapinho.

Na posição de sapinho as coxas estão flexionadas para cima e levemente separadas, deixando os joelhos alinhados à altura do umbigo. É como se o bebê estivesse acocorado. É a posição natural dos recém nascidos, as pernas se flexionam da forma em que o fazem naturalmente sem intervenção nenhuma (quando, por exemplo, deitamos barriga para cima o bebê para trocar a fralda). Na posição de Buda as coxas estão abertas “em borboleta”, horizontalmente, forçando uma posição que não tem nada de natural, e com o pano do sling exercendo pressão nas articulações.

No útero o bebê estava assim. No útero o bebê estava em um meio líquido. Esse argumento não serve. A força da gravidade era quase anulada por este motivo. o impacto nas articulações dele era outro. O bebê não é mais um feto, é um bebê em um grau de desenvolvimento mais avançado ao que tinha quando dentro do útero.

-Carregar o nosso bebê olhando para frente nesta posição o afasta muito do nosso centro de gravidade (ele fica curvado para frente, não se encaixando em absoluto no nosso corpo), nos obrigando a compensar aposição curvando a nossa coluna para trás, gerando dor de costas.

-Pela posição curvada para frente, o bebê corre risco de cair para a frente “fazendo uma cambalhota”, pois ele não está encaixado no nosso corpo, bem assentado nele.

4. BEBÊ VERTICAL, COLUNA E PERNAS ESTICADAS


A esquerda, posiçãoa dequada "de sapinho"; à direita bebê esticado, pendurado pelos genitais
Tanto olhando para a frente quanto olhando para nós, devemos prestar atenção sempre para o bebê não ficar com as pernas esticadas para a abaixo verticalmente.

Se carregamos o bebê de forma vertical com as pernas esticadas, da mesma forma em que os cangurus não ergonômicos o fazem, e da forma em que muitas pessoas colocam o wrap (por falta de cuidado na posição adequada de sapinho ou por desinformação), estamos segurando todo o peso do bebê ou criança pela área genital dele. Se é menino é mais desconfortável, mas meninas também o sentem, pois é o peso inteiro deles carregado nessa área (onde você preferiria ficar por uma hora, sentado numa rede ou pendurado num arnês de tirolesa?). Além do desconforto, tem questões de saúde muito mais importantes:

-Carregando pela área genital podemos dificultar a circulação sanguínea nas virilhas, onde passam as principais veias e artérias que irrigam as extremidades inferiores.

-Ao deixarmos as pernas esticadas para abaixo fazemos com que a cabeça do fêmur se desloque para abaixo na articulação do quadril, uma articulação ainda em formação que requer de uma flexão quase permanente das coxas: daí que os recém nascidos estejam naturalmente sempre com as coxas flexionadas, retraídas, para a cabeça do fêmur encaixar perfeitamente no quadril, ajudando a formação adequada da articulação e evitando lesões futuras, ver referência ao final deste artigo ao Instituto Internacional de Displasia de Quadril.

-Com as pernas esticadas, a coluna do bebê automáticamente também se estica, fica “reta”, em lugar de curvada em forma de “C”, como é a posição natural da coluna de um recém nascido. Como a musculatura das costas dele ainda não está fortalecida, ele não tem capacidade de se manter reto, portanto poderia sofrer compressão de vértebras.

 


Quanto menor seja o bebê, mais fechadinhos estão os joelhos, e progressivamente irão se abrindo até ficar numa apertura entre eles de uns 90º, abraçando cada vez melhor o nosso contorno. Nunca forçaremos a apertura das pernas deles, deixando, pois, os recém nascidos mais “bundudinhos” dentro do sling, até que eles consigam ir abraçando a nossa cintura com as pernas.

Veja como conseguir um bom posicionamento:





REFERENCIAS:

-Artigo do Instituto Internacional de Displasia de Quadril (IHDI) sobre slings ou portabebês em relação à Displasia de Quadril em bebês e crianças: Hip Health in baby carriers, car seats, swings, walkers, and other equipment

-Declarações de Presidente da Federação Alemã de Pediatria sobre a importância da posição de sapinho à hora de carregar um bebê no sling, e da inconveniência de carregar eles olhando para frente: Babys nicht mit dem Gesicht nach vorn tragen

Artigo de Elena de Regoyos para MamaÉ
Proibida a reprodução sem autorização

Mais informação sobre portabebês:

4 comentarios:

  1. genial!! y muy bien documentado :) Gracias

    ResponderEliminar
  2. Parabéns pelo site!!! Super mega informações importantes, com fontes seguras. Eu vim da mesma escola, estou feliz que estamos juntos, divulgando a ARTE DE CARREGAR BEBE FISIOLOGICAMENTE CORRETO. Forte abraço. Carine

    ResponderEliminar
  3. Bebês recém nascidos devem ficar com os pés dentro do sling?

    ResponderEliminar
  4. Ótimos esclarecimentos! Muito importante saber que não há forma segura de se carregar o bebê olhando para frente.

    ResponderEliminar