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viernes, 2 de diciembre de 2011

Seio empedrado… Obstrução, ingurgitação ou mastite?


Quem já amamentou ou amamenta pode ter se encontrado facilmente com um destes três problemas, ou até com mais de um deles. É algo que pode acontecer, que gera não poucos incômodos (em maior ou menor medida dependendo do grau e do que se trate) e que pode virar algo grave se não tomamos as medidas oportunas.

É por isso que eu gostaria de fazer um breve repasso das diferencias entre estes problemas da amamentação e as causas, características e tratamentos de cada um deles, para cada mãe ter a capacidade de diferenciá-los e possa agir em conseqüência.

Espero que sirva para esclarecer estes conceitos. Em caso de qualquer dúvida ao respeito, podem ligar ou escrever para mim ou para qualquer outra/o consultor(a) de amamentação no qual vocês confiem.

OBSTRUÇÃO MAMÁRIA

Trata-se da obstrução de algum conduto mamário. Apresenta-se como um bulto duro e dolorido em alguma área localizada da mama. Não é o seio inteiro duro e dolorido. O mais habitual é que isso aconteça na área mais perto da axila, por ser a área onde o bebê esvazia pior o seio (sempre se esvazia mais a parte da mama onde fica a mandíbula inferior dele).

Posição "invertida"
Pode aparecer algo de febre, não superior de 38,5ºC. No caso da febre ser maior e o bulto estar quente e vermelho já estaríamos falando de mastite, e não de obstrução.

As causas da obstrução podem ser muitas, desde uma falta de drenagem do seio em áreas onde o bebê não esvazia bem o peito, até uma mudança nos hábitos das mamadas, como começar mamar menos vezes depois de uma época de muitas mamadas (às vezes acontece quando eles começam com a alimentação complementar, suprimindo mamadas em lugar de complementando-as).

O tratamento seria: calor úmido na mama antes de cada massagem para drená-la, e depois pôr o bebê para mamar, preferivelmente colocando-o de tal forma que a mandíbula inferior dele fique na área afetada. Se esta é a parte de mama próxima à axila, colocaríamos o bebê na posição invertida (em lugar de ventre com ventre, seria ventre –dele- com costelas –nossas-, sentadas em um sofá e com o bebê apoiado em um travesseiro do lado do corpo onde esteja a mama afetada). A forma de massagear a mama seria com movimentos circulares pequenos, sempre desde a área externa da mama em direção ao mamilo. Podemos fazê-lo com os dedos ou com uma escova de dente limpa ou uma escova de cabelo de bebês.

Geralmente, após um dia ou dois com o bebê mamando na posição adequada à obstrução, e seguindo estas recomendações, esta acaba desaparecendo.

INGURGITAÇÃO

Trata-se de uma inflamação geral do peito (não de áreas localizadas), muito freqüente nos primeiros dias-semanas após o parto. Na primeira descida do leite (dos primeiros dias), como o nosso corpo não sabe quanto leite deve produzir para nutrir ao bebê recém nascido, a nossa natureza (que é sábia) produz mais leite do necessário para garantir uma nutrição mínima e depois já se adaptar à demanda exata do bebê, segundo o quanto ele mame (se mama muito produzira muito, se mama menos, produzirá menos, e assim sempre em consonância com as necessidades do bebê em cada momento).

Em essa primeira descida do leite, ao produzir muito, o leite fica retido nos condutos, o que leva a uma inflamação dos tecidos da mama e o peito fica inchado, duro e quente. Isso é uma ingurgitação.

Não acontece apenas nos primeiros dias, mas é quando é mais comum, Porém, pode acontecer em qualquer momento da nossa vida de nutrizes, independentemente do tempo que levemos lactando aos nossos filhos (dias, meses e inclusive anos).

O melhor tratamento é pôr o bebê para mamar. Se a mama fica muito dura e esta difícil para o bebê pegar o peito (como uma bexiga muito inchada, dura, que escorrega na boquinha do bebê), é recomendável aplicar calor úmido antes da mamada (uma toalha ou pano molhados em água quente serve, e senão um banho quente) para dilatar os condutos e assim facilitar a saída do leite, massagear o seio com movimentos circulares e sempre em direção ao mamilo (dividindo o seio em porções como de pizza, iríamos massageando as diferentes porções) e fazer uma leve ordenha até o seio ficar algo mais molinho para o bebê poder pegar em ele, pois às vezes estão tão grande e duro que a sua boca escorrega por ele impedindo fazer uma pega correta.

Depois, entre mamada e mamada, ajuda colocar algo frio para diminuir a inflamação. Serve uma sacolinha de legumes congelados (dentro de um pano, nunca em contato direto com a nossa pele), ou até uma folha de couve bem limpa e fria da geladeira. Corta um círculo para o mamilo "sair" por ele, e coloca a folha de couve fria dentro do sutiã. Têm pessoas que descrevem um grande alívio.

MASTITE

Basicamente é uma complicação de algum dos problemas descritos anteriormente, principalmente da obstrução. O principal indicativo é a aparição de febre, e geralmente esta febre é alta e pode aparecer junto com tremedeiras e alta sensação de debilidade. Vêm também junto com dor corporal muito similar à de uma gripe, até o ponto de resultar comum a gente confundir uma mastite com uma gripe por estes sintomas (febre, mal estar e dor geral no corpo), mas teríamos o sintoma adicional de dor ou alta sensibilidade na(s) mama(s), e ausência de tosse.

A mastite se produz quando há uma retenção do leite no seio: se pulamos uma das mamadas, quando a produção é maior da que o bebê consegue dar conta (por ter mamado mais nos dias prévios estimulando um aumento de produção, por exemplo, que depois já não necessitava mais), quando estamos usando um sutiã pequeno e apertado que comprime uma parte da mama ou se o nosso bebê suga (estimula o peito), mas não consegue mamar adequadamente, e por tanto ele não esvazia adequadamente os condutos.

Não é sempre necessário tratar a mastite com antibióticos. Se é detectada precocemente é comum a gente conseguir controlá-la antes de que chegue a derivar em uma infecção.

Massagem da mama
O tratamento consistiria em DESCANSO (fundamental) e drenagem da mama afetada. Para isso o melhor é o bebê sugando, mas se ele não quer mamar ou não é possível em esse momento, teremos que tirar o leite manualmente ou com bombinha, procurando manter a mama “mole”. Se for só em um seio o problema, é fundamental não nos esquecermos do outro, pois às vezes ficamos tentando que o bebê mame do que esta duro e dolorido para sará-lo, e com isso provocamos que o outro acabe igual. Então não deixemos que nenhum seio fique duro e inflamado. Se o bebê não da conta dos dois, façamos ordenha no outro, apenas o suficiente para aliviar o inchaço, mas nem tanto como para estimular mais ainda a produção.

Da mesma forma descrita na ingurgitação, podemos nos beneficiar do frio e do quente aplicados tal e como foi descrito anteriormente: calor úmido antes das mamadas ou da ordenha, e frio entre mamadas para diminuir a inflamação.

Também poderíamos tomar um analgésico ou antiinflamatório compatível com a amamentação (paracetamol ou ibuprofeno, por exemplo), o que alivia a dor, melhora a febre e desinflama a mama liberando os condutos. Mas lembremos que isso não sara, simplesmente alivia os sintomas. O que sara é descanso e drenagem do seio, e antibiótico (sempre receitado pelo médico) no caso de chegar a ter infecção.

Não só você pode continuar amamentando, senão que DEBE fazê-lo. Mesmo tendo febre muito alta, NUNCA deve se optar por um desmame durante uma mastite. Não há perigo do bebê “se infeccionar” a través do leite. Porém, às vezes acontece que o bebê rejeite esse leite por ficar algo salgado devido ao aumento de sódio no leite. Isso não é mau para o bebê, mas às vezes simplesmente eles não gostam, então teremos que fazer ordenha manual e oferecer o outro peito à criança.

Quando ir ao médico?

Se com estas dicas não temos melhorado em um prazo de 24-48 horas, é preciso ir ao médico para ele valorar a possibilidade de receitar um antibiótico compatível com a amamentação, e nem assim deve deixar de amamentar, é claro. Em este caso, é muito importante tomar o antibiótico tantos dias como o médico indicou, pois uma mastite mal sarada pode provocar que a infecção se reproduza e/ou aumente, acabando em um abscesso, o que seria muito sério e requereria uma intervenção cirúrgica para drenar o pus da mama. Mesmo assim, você pode e deve continuar amamentando, mas impedindo que o bebê entre em contato com esse pus, é claro: se o abscesso esta longe do mamilo, pode amamentar normalmente. Se esta perto dele, melhor amamentar só com o outro seio até sarar, mas ordenhe a outra mama para não acumular leite de novo.

Se você estava pensando em desmamar o filho, não há pior momento do que este para fazê-lo. É preferível primeiro sarar e, depois, já iniciar o desmame. Se não esvaziamos o seio com freqüência durante uma mastite, poderia acabar aparecendo um abscesso mamário. A retenção de leite no seio faz com que a febre aumente, pelo que é importante manter o peito “mole”. Se o bebê não chega esvaziá-lo, teríamos que acabar de fazê-lo mediante ordenha manual ou com bombinha. O leite nunca vai acabar, pelo que o objetivo não é “acabar” com ele, senão tirar tanto leite quanto seja necessário para que o peito não esteja duro, sem provocar um aumento de produção.

Se as mastites são repetitivas, seria importante fazer uma revisão médica para ter certeza de que não há algum outro problema, como uma infecção anterior mal tratada, uma descida de defesas ou problemas na sucção do bebê.

Texto de Elena de Regoyos para MamaÉ
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