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jueves, 24 de mayo de 2012

Amamentação prolongada na mídia: "O homem que mordeu um cachorro"

Em todas as faculdades de jornalismo do mundo ensinam um princípio básico: se um cachorro morde um homem, não é notícia ("não vende"), mas se é o homem quem morde o cachorro, aí sim, é notícia ("vende"). Do mesmo modo, tal como vêm acontecendo estas últimas semanas no mundo inteiro a raíz da capa da revista TIME, uma mulher que amamenta um bebê de poucos meses "não vende" (bom, já nem sei se seria mais adequado dizer que o que não vende, o "normal", é uma mãe dando uma mamadeira), mas uma mulher que amamenta o filho de três anos, em pé, subido numa banquetinha para alcançar o seio da mãe, isso vende. Igual que uma mulher que amamenta a filha de sete anos. Onde já se viu?

As tetas, de sempre, vendem muito. Vendem cervejas, e também vendem jornais. Não sou contra mostrá-las, deus me livre, mas sou muito contra a utilização que se faz delas quando alguém as mostra, seja vender cervejas ou jornais. Qual a differença? Acho mais nojento ainda esta última opção, no tipo de reportagens que ando lendo estes dias sobre criação com apego e amamentação prolongada, pois envolve crianças, além de prostituir um ato de amor sagrado entre mãe e filho.

Repito, não sou contra a mãe que as mostra, e sim contra o jornalista ou empresário dono do jornal (ou mídia que seja) que faça uma utilização suja delas.

O que é "vender" ou "não vender"? Tão simples como que atraz a atenção dos leitores o suficiente como para lhes fazer querer comprar o jornal ou revista que seja e, assim, fazer ganhar mais dinheiro ao dono da mídia em questão. Não sempre o mais importante é o que mais vende. Aí entrariamos numa outra discusão: o que é importante realmente? Outro capítulo.

A "secta" das loucas da teta

Explicado isto passo a expôr o meu ponto de vista sobre certos focos que me incomodam muito em algumas publicações empolgadas com o muitíssimo que vende isto da criação com apego e "a secta de mães que seguem o guru Dr. Sears", a maioria delas até mesmo sem saber quem é este tal doutor (que não inventou nada, dito seja de passo, simplesmente escreveu um livro com recomendações de como ele e a mulher dele, também médica, gostavam criar os 8 filhos deles, e como tantas outras pessoas no mundo inteiro já faziam antes deles). Não somos secta, somos mães conectadas com os nossos filhos, que se apoiam entre si.

Quase surto com essa frase da reportagem "Criação com Apego" (domingo 20 de maio) da Folha de São Paulo:"A amamentação prolongada vem sendo adotada por muitas brasileiras adeptas do movimento chamado Criação com Apego, que também prega que os pais durmam junto com os filhos".

Adeptas ao movimento? Alguém se inscreveu no "movimento" e não me avisou para irmos juntas? Você já recebeu crachá "do clube" com o seu nome? Acaso todas vocês fazem exatamente as mesmas coisas com os seus filhos? conheço um monte de mães com as quais compartilho muitas opiniões sobre a criação dos nossos filhos. Porém, nenhuma só delas faz as coisas do mesmo jeito que a outra. "O movimento PREGA que os pais durmam com os filhos"? Juro que não sabia que eu fazia isso porque o movimento o pregasse. Sempre pensei que era por conforto e aconchego proprios e dos meus filhos. E se eu parar, vão me expulsar do "movimento"?

Bom, gostei muito da reportagem, achei as fotos e depoimentos das mães e famílias entrevistadas muito conscientes, respeitosos, informados e cheios de amor. E me pergunto, então, porque eu fiquei tão encanada com a dita reportagem? Creio que foram duas coisas as que me incomodaram profundamente. A primeira, a já explicada nos parágrafos anteriores. A segunda passo a explicá-la nos parágrafos a continuação. E como consequencia, a dúvida que me surge (ainda não sei a resposta): Será que eles tilizaram deforma suja, então, estas fotos e depoimentos para vender mais? Eles queriam era informar de uma realidade, ou vender jornais com um tema que está demostrando ser imensamente rentável? Sei lá...

Opiniões vs informações

O outro detalhe que me incomodou, aí vai: Também nos insistem na faculdade, uma e mil vezes, que nunca o jornalista deve tratar de impôr o seu ponto de vista aos leitores, que deve ser o mais objetivo posível e, para isso, o melhor é colocar depoimentos variados e até opostos, para retratar a realidade no seu mais amplo espectro, não ficando numa única versão dos fatos.

Até aí bem. Mas uma coisa são opiniões ou visões differentes de um mesmo fato, e outra é o fato em si. A realidade não podemos mudá-la, devemos informar dela tal qual ela é. Agora, o que uns e outros acham dela, aí sim, pode ser do mais variado. Se a realidade é que o leite materno alimenta e imuniza sem límite de tempo, não podemos dizer o contrário (igual que o leite de vaca ou de qualquer outro mamífero, as vacas não tem data de caducidade para, depois de "X" meses sendo ordenhadas, aposentá-las, porque "o leite delas vire água"). Agora, que um pediatra ache absurdo amamentar crianças "grandes", e outro o considere o mais apropriado do mundo, é opinião. O primeiro é fato, informação. O segundo, opiniões, e como tal devem ser expostos ambos.

Quando temos um médico falando sobre a sua especialidade, o leitor acredita no que ele diz, pois não é um simples cidadão opinando, e sim um -suposto- proffisional da saúde. A propaganda utiliza atores vestidos de médicos para conseguir que a gente compre sabonetes bactericidas e coisas similares, pois é fato: acreditamos no que os médicos falam.

"Leite vira água", em palavras de um pediatra?

Por tanto, considero perigoso que na citada reportagem seja colocado alegremente o depoimento de um pediatra que diz que o leite materno, depois de um certo tempo (que não é especificado na matéria, mais perigoso ainda) "é uma aguinha com um pouquinho de sabor" e que "não tem mais a mesma quantidade de nutrientes".

Tudo bem que mostra uma realidade, a triste realidade de que não são poucos os pediatras no Brasil que opinam isso aí. Uma vergonha, pois na mesma reportagem se explica que a Sociedade Brasileira de Pediatria, e a OMS dizem precissamente o contrário.

Mas é perigoso, pois isso não é mostrar opiniões diversas, isso é desinformar aos leitores. Leitores que acreditam cegamente no que os médicos dizem, igual que quando éstes indicam com asustadora frequencia cesáreas completamente desnecesáreas e as mulheres se deixam levar à faca. Gente, acreditamos nos médicos, sim! Por favor, senhores jornalistas, vão um pouco mais ao fundo, pesquisem, não fiquem só nos depoimentos "daqui e de acolá". Não tem nem um só estudio que diga que "leite vira água com um pouco de sabor e poucos nutrientes", porém tem muitos estudos que garantem que "leite materno continua sendo nutritivo sempre".

Esse pediatra pode falar todas as besteiras que queira, para mais vergonha ainda num jornal do alcance da Folha de São Paulo, mas faça-me o favor de informar depois do FATO, avalado por pesquisas sobradamente demostradas, e colocando a fonte de informação das mesmas pesquisas: o leite materno não vira água, não perde nutrientes nem sabor (se não acredita, basta experimentá-lo) e, sim, são sobradamente demostrados os seus benefícios alimentícios, emocionais e imunológicos sem limite de tempo. De fato, está demostrado que certo tipo de nutrientes aumenta depois dos dois anos de amamentação, e principalmente o número de anticorpos, pois o leite se modifica segundo é a idade da criança, se adaptando as suas necessidades. Muito longe de "virar água".

Virar notícia não é normalizar

É, eu também me empolgo de ver uma mãe amamentando um filho "grande" na capa de uma revista ou jornal de alta repercusão, pois derruba tabúes, mostra que não temos do que nos escondermos e levanta discussões, traz o asunto para cá, encima do tapete. Mas depois faço uma leitura mais detenida, e não sei se eu gosto tanto, ainda não tenho certeza de até ponto isso é bom, pois virar "homem que morde cachorro" não me faz sentir respeitada na minha opção, senão "bicho do zoológico". Se viramos capa de revista, é porque é incomum, é raro, "vende"... Será que dá para normalizar coisas como a amamentação prolongada desta forma? Não sei... não sei mesmo.

E sim, eu também peço, e desejo, respeito à minha opção de criação. Não pretendo que os jornalistas façam propaganda dela, pois não é o trabalho deles. Não quero que eles "puxem" para o meu lado. Apenas pretendo que eles informem dos fatos com seriedade, pois esse é o seu compromiso profisional.

Prohibida la reproducción total o parcial de este artículo sin el consentimento de la autora:

Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e coach parental
-Consultora de slings e amamentação
www.mamaedoula.blogspot.com

miércoles, 16 de mayo de 2012

Attachment Parenting: O medo que nos transforma em mãe

Venho pensando nestes dias muito sobre o Attachment Parenting ou Criação com Apego (apego positivo, que diria Bowlby). Principalmente por dois motivos: Primeiro porque o sujeito-tipo-domesticador de crianças-sem escrúpulos, aquele espanhol do qual nada me enorgulho e me faz sentir vergonha da minha nacionalidade, Eduard Estivill (autor do maldito Nana Nenê), acabou de publicar novo livro. Não sei qual faceta das crianças ele quer controlar ou submeter aos seus desejos agora. Segundo, por causa da capa do próximo mês da revista TIME, que tanta polémica está causando (fala do Attachment Parenting como se de uma secta com gurú se tratasse) por mostrar uma mãe amamentando o filho de 3 anos.

Bom, e a minha pergunta é: Por que tanta polémica? Por que a eleição de cada cada vez mais mães, de criar os filhos com respeito e amor, liberdade e apertura, resulta tão, tão interessante para jornais e bate-papos de amigas, colegas, vizinhas e avôs?

A resposta me chega com uma só palavra: MEDO.

Tudo bem que a maternidade da esse frio na barriga, pois uma pessoinha vai depender 100% dos nossos cuidados e atenções, do leite que mana dos nossos seios, do calor com que nosso corpo lhes nine, dos nossos sorrisos e palavras de amor, da nossa compreensão das suas necessidades e da aceitação sem juizos das mesmas, do 100% do nosso tempo diario e noturno e de práticamente a nossa entrega total, física e emocionalmente falando, a eles nos primeiros dias, semanas, meses e anos da sua vida. Isso, para mim, é motivo suficiente para dar muito medo.

E como é sabido, cada um responde ao medo de uma forma. O medo é uma emoção que, como todas as outras, tem uma finalidade util para a nossa sobrevivencia. Sentimos medo de um urso para liberar os hormônios necessários que preparem o nosso corpo e mente para poder fugir dele, e sentimos medo das águas turbulentas de um rio que nos arrasta, para liberar os hormônios necessários que preparem o nosso corpo e mente para enfrentar essa dificuldade e conseguir sair dele. Do mesmo jeito, também tem quem foge pelo medo que lhe causa ser mãe (podemos fugir da maternidade, uma vez que já temos o filho?), e tem quem o enfrenta e se supera, se recria e cresce graças a esse medo.

As mães sentimos medo das críticas dos outros. Tememos que pensem que "não estamos sabendo ser mães" (acaso isso pode?), e que pensem que o filhote está nos manipulando, que nós não temos o controle desse serzinho tão indefeso e aparentemente facil de controlar.

Tememos que nós mesmas, geralmente as mais críticas com tudo o que fazemos, nos julguemos incompetentes como mãe por não conseguir desfrutar de tudo o que ser mãe implica, e querer às vezes descer um pouquinho do trem da maternidade, que não tem paradas.

Temos medo do bebê, que precisa tanto de nós.

Mas principalmente temos medo de quebrantar as regras. Sim, porque ser mãe implica não ter regras, implica escutar o coração segundo o que o filho nos fala atravês dele. E já desde crianças fomos ensinados a ser bonzinhos, a seguir regras e não questioná-las nem quebrantá-las. Desde sempre fomos asumindo que "não é permitido" agir segundo os nossos instintos, que temos que aprender e saber como nos comportarmos em segundo qual situação, ambiente ou companhia.

E aí chega um serzinho que se rige absolutamente por instintos, que não sabe o que "pode" e o que "não pode", e que espera o mesmo de nós, mãe e pai. Mas nós tentamos levá-lo à casa onde nos sentimos confortáveis, porque práticamente não conhecemos outra: a casa dos "pode" e "não pode", socialmente falando, a casa das regras e dos manuais de instrucções. Porque temos medo de agir como nunca nos foi permitido: com o coração e segundo os instintos.

E queremos soluções, queremos método científico para dominar essa maré de instintos que nos toma por dentro, e de passo também dominar a criancinha, para não nos fazer mais sentir assim de selvagens. Onde já se viu? Porque isso "não é permitido" nesta sociedade.

Lamentávelmente, os únicos que tem soluções imediatas são todos aqueles proffisionais que domesticam crianças. Chama-se, em psicologia, conductismo, comportamentalismo, "behaviurismo". Para mim chama-se, simplesmente, adiestramento de pessoas, como se fossem animais de circo: Chora? Com um reforço negativo vai aprender a não chorar -ele aprende que não vale a pena pedir o que lhe pertence: o amor dos pais-; Quer colo? vai aprender a não querê-lo mais. E vai aprender a se virar, a não precissar do carinho dos pais, nem esperar nada nesse sentido, não vá ser que fique dependente de mim o resto da vida. A Supernanny consegue, e o Stivill do Nana Nenê também. E, tristemente, também o conseguem as muitas pessoas que em lugar de enfrentar a maternidade quando sentem esse frio na barriga, fogem dela e das janelas que ela abre no seu coração. Depois nos extranhamos de que essas crianças não contem com os pais na adolescencia. Onde eles estavam quado mais precissavam deles?

Não fechemos, desde já, as janelas dos nossos filhos, que precissam, sim, de colo, teta, contato, atenção (também de noite) e respeito dos seus ritmos. Não é manipulação, é natureza em estado puro. Permitamo-lhes agir com o coração, não reprimamos os seus instintos, pois eles não são necessariamente antisociais, senão toto o cntrário (o ser humano é um ser social por natureza), e estaremos criando adultos com empatia, com capacidade de amar e de compreender os outros. Com certeza eles não terão medo de ser pais e mães com o coração aberto, porque isso nunca lhes foi negado.

E parabens a você, que sente esse frio na barriga da maternidade e, em lugar de olhar para outro lado, o enfrenta, crescendo e se transformando com o que ele lhe oferece.

Prohibida la reproducción total o parcial de este artículo sin el consentimento de la autora:

Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e coach parental
-Consultora de slings e amamentação

http://www.mamaedoula.blogspot.com/