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sábado, 29 de diciembre de 2012

Lição de babywearing nas costas, desde Uganda, em estado puro

Um amigo viajou a Uganda faz uns meses, como cooperante, e me trouxe este lindo presente. Ele fotografou, numa aldeia chamada Sipi, o processo de colocação de um bebé bem pequeno nas costas de uma mulher (talvez irmã, prima... porque o filho nestes lugares é da tribo inteira, não só da mãe ou da mãe+pai).








As fotos mostram como se coloca o porta-bebê ao modo tradicional africano, o que eles geralmente fazem com tecidos wax, mas que neste caso parece um simples tecido retangular de algodão.

Como vemos, ninguém tem que lhes explicar que:

-O bebê vai, sempre, olhando o corpo da mãe (ou de quem o carregue), e nunca olhando para a frente, seja colocado na frente, no quadril ou nas costas.

-A posição adequada e natural de carregar um bebê é na posição de sapinho, como se ele estivesse acocorado, com os joelhos mais altos que o bumbum e as costas curvadinhas em forma de C.

-Não precisamos de slings de marca, e que com práticamente qualquer tecido podemos carregar pertinho do nosso corpo os nossos filhos, de forma adequada: bem tensionado, na posição idónea e de forma confortavel para bebê e adulto.

-O melhor lugar para "deixar" um bebê é em contato humano, sentindo o cheiro de outra pessoa, o contato da sua pele e o balanceio do seu corpo ao caminhar ou trabalhar.

Obrigada Carlos ;)

MamaÉ Slings
Proibida a reproduçõ sem permissão

martes, 4 de diciembre de 2012

Viajar de avião com bebê e/ou crianças pequenas e não morrer na tentativa

É uma das perguntas, além de amamentação e babywearing, que com maior frequencia me fazem as mães que conheço. Sou toda uma proffisional no asunto (piscadinha de olho), pois tenho três filhos com os que viajo, desde que nasceram, duas vezes por ano mínimo, em vôos principalmente transoceánicos, e sem ajuda do pai, que viaja em outras datas.

Já viajei sozinha com bebês, com bebê e criança pequena, com duas crianças pequenas, grávida querendo vomitar toda hora com dois filhos que precisam de ajuda, barrigudona de final de gestação com os mesmos dois filhos, com bebê recém nascido e mais dois filhos pequenos... Já enfrentei conexões, vómitos, cocôs transbordantes de bebê, perdas de necesser com fraldas e toalhinhas, atrasos e difficuldades de todo tipo, pelo que creio que estou pronta para lhes oferecer algumas dicas que para mim vem sendo úteis. São as seguintes:
 
(Na foto, viajando sozinha de Madri para o Brasil com Paulo -6 anos-, Adriano -4 anos e meio- e Alicia -4 meses-, sendo que colocaram os meninos 6 filas atrás de mim, e ninguém quis trocar de lugar. Passei a viagem indo e voltando do lugar deles ao meu, impedindo brigas entre eles, lhes ajudando a comer e dormir, sem ter lugar ao seu lado e com uma menina no colo)

PREPARATIVOS:

-Leve uma bagagem de mão completa, mas também sem exageros, pois você vai ter que carregar filhote(s) além da bagagem. Para mim serve: troca de roupa para as crianças e para mim (pelo menos a parte superior) por se sofremos acidentes como um suco derramado, vómitos, xixis noturnos, etc. Fraldas, toalhinhas, uma sacola plástica para guardar roupas molhadas ou sujas, dois potes plásticos de armazenar leite materno, com tampa, vazios; alguma coisinha saudavel que as crianças gostem (paitos de pão, por exemplo), roupa mais quente... E a sua bolsa com as suas coisas pessoais importantes: celular e carregador, carteira, documentação, dinheiro, máquina de fotos, passaportes (que seteja facil de achar), passagens, etc.

-Esqueça de grandes trambolhos, como super bonecos de pelúcia, travesseiros de cama e similares. É uma noite, ou uma viagem de umas horas, não precisa carregar tanta coisa "na mão". Simplifique a sua vida, não a complique. Vai agradecer esta dica.

-Eu sempre preparo uma pulseirinha com um elástico e um papel plastificado com os dados da criança, endereço e telefones e emails de contato dos responsaveis, por uma cara de um país, e pela outra do outro país. Já fiz isso com uma colarzinho, e é mais desconfortavel para dormir. Melhor pulseira. Nunca perdí um filho em um aeroporto, mas é algo que não quero que aconteça. Eles sabem que se se perdem de mim tem que procurar alguém adulto e lhes mostrar a pulseirinha pedindo para ligar à sua mãe.

-Não se esqueçam que nos aviões você pode tanto morrer de calor como virar uma pedra de gelo. Sempre coloco calça comprida neles, porem confortavel (moletom ou similar, assim me e lhes poupo de ter que trocar para colocar pijama, acho desnecessário), meia e camiseta de manga curta. Mas levo uma roupa mais quentinha no caso de ser um avião desses gelados, algo confortavel que dê para dormir bem com ele, também tipo moletom, ou camiseta de manga comprida algo quentinha. Algo que também dê para tirar facilmente. É importante lembrar também de colocar neles sapatos confortaveis e faceis de pôr e tirar (croc é um grande aliado, da para usar com meia também nestes casos). E se tem bebê, leve uma toquinha, o frio às vezes é muito forte e os seus ouvidos podem sofrer depois.

-Sempre procuro levar uma pequena mala de mão (igual a da foto), em lugar de varios bultos menores. Isso me facilita por vários motivos:

1. Levo menos bultos, por tanto tenho menos possibilidades de esquecer algum deles em algum lugar (cafeteria, control de bagagens, control de pasaportes, sala de embarque, banheiro, etc). Quando vamos com crianças vamos 90% atentas a elas, e é facil esquercemos de algum bulto no caminho. Melhor um maior do que muitos menores.

2. Se é uma mala posso levar ela rodando, não preciso carregar peso.

3. Se preciso tirar alguma coisa não tenho que lembrar em qual dos bultos eu guardei aquilo.

4. Uso a mala como apoio para os pés durante a viagem, pois sempre tenho alguma criança dormindo encima de mim ou apoiada em mim, e resulta mais confortavel para as minhas pernas tê-las um pouco levantadas, apoiadas em algo alto. Isso também me ajuda para, no caso de eu precisar de alguma coisa, poder pegá-la sem precisar me levantar, já que algum filho pode estar dormido encima de mim ou apoiado, ou na poltrona dele ao meu lado, e eu poderia acordá-lo ao passar e abrir o porta bagagens.

-Levo potes vazios onde poder guardar água, com tampa. Uso esses que se vendem de plástico para armazenar leite materno, mas serviria uma garrafa normal. Durante a noite geralmente lhes da sede por causa do ambiente seco do avião, e chamar a aeromoça, esperar ela trazer água, talvez não terminarem o copo e não ter onde deixá-lo (lembrem-se do bebê que dorme no colo)... é um risco para acordar uma das crianças que esteja dormindo. Muito barulho e movimentação. Então, na hora do jantar, peço para a aeromoça encher os meus potinhos de água e já os guardo na mala sob os meus pés. Evito uma possivel difficuldade posterior.

-Não levo brinquedos na bagagem de mão, ocupa espaço e atrapalha, e é facil de perder (mais ainda quando você não pode andar procurando coisas por ter um bebê encima). Às vezes algum brinquedo preferido da criança sim, que lhe da segurança. Pequeno melhor e sem peças que possam espalhar e se perder. Mas tenho comprovado que a grande variedade de coisas que já tem dentro do avião oferece distração suficiente às crianças, e vira brinquedo rápidamente. A imaginação deles é insuperavel. Além de tudo, as companhias geralmente tem algum brinquedinho para eles pintarem ou brincarem, ou espalharem por aí, e tem a TV, a música nos fones de ouvido, canudinhos, papel para fazer aviãozinhos, passageiros que conversam com eles, o carrinho do jantar, ir visitar o banheiro, etc. (Na foto, Paulo, de 6 anos, faz collages sobre a poltrona com papelzinhos colados com chiclete e band-aids num guardanapo, e brinca de barquinho com uma canequinha  um marinheiro feito de papel de revista).

-Peça para ficar longe do banheiro, pois o barulho da descarga é forte, e os passageiros indo e vindo durante a noite toda podem acordar os seus filhos facilmente, além de ter muitas idas e vindas de pessoas ao seu lado. É desconfortavel.

-Se o seu filho não controla muito bem o xixi noturno, talvez é uma boa dica vocês combinarem juntos de usar uma fralda nesta ocasião. Talvez ele queira ir ao banheiro enquanto outro filho dorme encima seu e seja complicado para você acompanhar o primeiro, ou acordar o segundo. Ou eles podem acordar querendo fazer xixi num momento em que não é permitido levantar, como o pouso ou em turbulencias. Daí ele pode, dessa vez, fazer o xixi na fralda e pronto. Se ele concordar, é claro. É uma situação especial, eles geralmente compreendem.

-Desencane com o quanto e o que eles comeram no avião. É muito provavel que eles comam pouco ou quase nada, é como se ficassem sem fome. Os meus filhos práticamente só comem pão (e suco) nos aviões. Não tem problema. As aeromoças dão quanto pão você quiser, eles não vão ficar com fome nem desnutridos por comer só pão por um dia. Se você leva alguma coisa para garantir que eles comam, procure que seja facil de lhes dar, e se pode ser, que não precise aquecer, pois geralmente chega ardendo nesses casos. Se o bebê ou criança ainda mama, melhor ainda, tem um alimento bom e forte garantido durante a viagem, sem precisar carregá-lo, nem aquecê-lo.

AMAMENTAR

-Use roupa que facilite a amamentação no avião. Pode ser que você passe práticamente a noite inteira (em caso de vôs noturnos) com a teta de fora, ou mudando de uma teta para a outra, e é bom não passar frio na barriga, assim como não sofrer desconforto com uma roupa amassada nas costas por ter tido que levantar a camiseta, etc. Além disso, é bom que o bebê tenha um facil aceso ao peito por se acorda de noite sem saber bem onde ele está. Isso vai lhe acalmar facilmente. Pense numa camisa ou camiseta soltinha, talvez com uma dessas mais justinhas de alças finas embaixo, que não dê calor, assim você levanta a soltinha e com a outra você mantem a barriga aquecida, deixando o peito livre por cima dela (a justa baixa e a solta se levanta, não sei se dá para imaginar), e não esqueça um sutiã bem confortavel, ou até em ir sem, isso facilita muito :).

-Procure amamentar o bebê durante a decolagem e o pouso, se ele aceitar. Isso ajuda a evitar possíveis dores de ouvido nele por causa da mudança de pressão. Se ele não mama no peito, dê-lhe alguma bebida na mamadeira, ou uma chupeta para sugar se ele a suga. Succionar ajuda de qualquer forma neste caso.

-O aeromoço me disse, na última viagem: "senhora, coloque a menina em posição de amamentar para decolar, assim protege a cabeça dela em caso de algum movimento brusco". Lhe respondi: "moço, qual posição de amamentar? Isto é que nem Kama Sutra, sabe? Longe de ter uma única posição". Coloquei Alicia na posição de cavalinho que achei mais confortavel para ela e para eu segurá-la, ele olhou sem saber bem o que dizer e acabou com um "tudo bem assim". Desta vez, por ser um vôo doméstico, não me deram cinto de segurança para a menininha. Sempre me deram um, que se amarra ao meu cinto, nos vôos longos.

-Tanto nas esperas em salas de embarque quanto no avião o bebê pode mamar dentro do sling, o que também te deixa as mãos livres para outras coisas que precise fazer.

SLING

O bom de viajar de avião, a differença do carro, é que você pode carregar o seu bebê encima, não estando ele obrigado a permanecer em um bebê conforto que muitas vezes lhe desespera. E você pode passear com o bebê, se levantar, amamentar e embalar ele... Coisas que em uma viagem de carro são impossíveis (ou quase).

Pode levar o carrinho até a porta do avião, eles o guardarão aí e você o irá recuperar na saida, ou diretamente na esteira de bagagens. Eu recomendo, de levar carrinho, que seja um dos que fecham como uma tesoura ou guardachuva, aqueles mais simples, estilo "McLaren", pois com o bebê no colo, começar fechar um carrinho complicado é uma estória.

Ainda assim eu, mesmo levando carrinho (principalmente para carregar a bagagem de mão, a bolsa e se os meninos levam mochila, para elas também), nunca viajo sem um sling confortavel e facil de colocar e tirar.

Antes dos 5 meses um wrap melhor, são muitas horas de espera e de vôo, com o bebê encima, e para mim (e para o bebê sem dúvida) é o mais confortavel, até para fazer ele dormir. Se não dorme nele, mas no meu colo, aproveito para usar o wrap de "cobertorzinho" no caso de um ar condicionado forte. Depois dos 5 meses já um Mei Tai é a minha escolha mais habitual. Mais facil de colocar e tirar do que o wrap, porém igual de confortavel. Um canguru ergonômico também é útil por sua praticidade, claro.

Serão muitos barulhos, vozes de autofalante e dos milhares de pessoas que transitam pelo aeroporto, crianças que gritam, malas que se arrastam, cafeteiras que parecem trens em marcha, descargas de água... tanto no aeroporto quanto no avião, e também na pista se vamos de onibus até o avião (turbinas barulhlentas), muitas luzes (às vezes no meio da noite), muitas idas e vindas... Tudo fora das rotinas dele, e muitas vezes em horários impossíveis, como no meio da madrugada. O bebê pode se sentir desubicado, inseguro e estressado se não está em contato com você. Por isso recomendo algum portabebê confortavel, isso ajudará o bebê se acalmar, o contato com você lhe faz sentir "em casa" esteja onde estiver. No carrinho está exposto a um excesso de estímulos, e longe da pessoa que lhe transmite segurança e proteção: você.
 
Com o bebê no sling você terá as mãos livres para abrir bagagens, pegar a documentação ou passagem, colocar as coisas na esteira do controle de bagagens, etc. E também para carregar a mala de mão ou outras coisas, como se ocupar dos irmãos se eles precisam de ajuda para alguma coisa. Também é útil se, quando chegamos ao destino, a criança está dormindo.

Mesmo sendo uma criança grande e que caminha (eu fiz isso com Adriano até com 4 anos), é duro acordar ela porque "já chegamos, filho", e lhe fazer caminhar por longos corredores, esperar a mala, a fila de passaportes... Quando ela estava dormida. O porta-bebê te ajuda com isso, pois mesmo ela tendo acordado, vai confortavelmente nas suas costas (ou na frente ou no quadril), podendo assim caminhar pelos longos corredores, esperar malas e filas, sabendo que o seu filho está bem.

O único chato é que às vezes, no controle de bagagens, eles te fazem desamarrar o porta-bebê para passar pelo arco com o bebê afastado do teu corpo. Depende da simpatia e empatia (principalmente) do policial. Se o bebê estava dormido você tem vontade de pisar o mindinho do policial, como mínimo. Eu já dei algumas broncas. Não me poupou de ter que desamarrar o porta-bebê, mas pelo menos deixei claro o meu ponto de vista ao respeito. Poxa, o bebêzinho está dormido numa p..a situação ruim para ele, e ainda preciso acordá-lo e afastá-lo do meu corpo para você supervisar um pedaço de tecido amarrado no meu corpo? "Vá tomar no banho!", como diria o meu sogro.

-E faço tudo sem pressa. Prefiro demorar e fazer esperar ao de trás de mim, do que fazer tudo às presas, nervosa e mal, esquecendo algo ou amarrando mal o wrap, me deixando desconfortavel e estressando as crianças.

-Não se estresse se o seu filho chora ou faz barulho, principalmente quanto menor ele fôr, pois menos capacidade de compreensão ele tem da situação. É claro que com bom senso, se é uma criança maior, lhe podemos e devemos pedir para não ficar gritando ou incomodando outros passageiros. Mas pense que é uma pessoa que talvez ainda não entenda que está num avião, que o barulho dele incomoda as outras pessoas, etc. São muitas horas e as crianças precisam se mexer e brincar, ou cantarolar, etc. Os adultos temos (ou deveriamos ter) maior capacidade de compreensão sobre as crianças do que elas conosco.

Então, usemos o bom senso para cuidar deles não ficarem fazendo bagunça demais, mas também lhes deixando se distrair com coisas normais de criança, como passear pelo corredor, falar, se divertir e inclusive chorar. Eles se cansam, se entediam, se estressam com tanta coisa, dormem pouco e mal e choram às vezes, sim, inclusive aos berros. Não pense nos outros nesse caso, pense no seu filho e tente ajudá-lo, ele precisa mais dessa compreensõ do que os adultos que se incomodam com isso, mesmo tendo os motivos deles, claro, para se incomodar. Se os passageiros não o entendem, é coisa deles.

-Geralmente os passageiros são compreensivos e colaboradores com uma mãe que viaja com crianças. Salvo contadas excepções, eu sempre tive muita ajuda deles e da tripulação. Pense em positivo e imagine que eles compreendem a sua situação. Sempre tem alguém que não, mas é minoría. Pior para ele. Não se deixe influenciar pelo possível desconforto dele, você não pode fazer com que o seu filho se comporte, compreenda e sinta como um adulto.

(Na foto, Paulo dorme sobre o passageiro do nosso lado, um garoto simpático e cuidadoso que brincou e conversou com ele e depois lhe deu colo para dormir, ajeitando a cabecinha dele se ficava meio torta e lhe cobrindo quando começou fazer frio. Eu tinha um barrigão de 8 meses e outro filho dormido apoiado em mim)


E duas últimas dicas, que para mim sempre funcionam (como "autodicas"):

1. Calma que chegar, você vai chegar. Não sei se caindo de sono, talvez vomitada ou com vontade de matar a aquele que abriu a janela acordando o seu filho justo quando acababa de dormir. Mas chegar, vai chegar, com certeza. Vai tomar um banho e depois vai ter tempo para recuperar a rotina e a compostura.

2. Não se coloque espectativas. Simplesmente deixe que as coisas vão acontecendo. Não pense a que horas o seu filho deverá dormir, ou quantas horas de sono vai perder essa noite, ou se já deveria ter tirado a soneca das 11h, ou se está comendo porcarias demais e comida de menos. Não se estresse, não se cobre nem lhe cobre, é uma situação especial, tome-a como tal e esqueça as espectativas que podem lhe fazer sofrer demais. Vá superando cada etapa da viagem, que logo chega e descansa. Se comeu pouco, depois come mais, Se dormiu pouco, depois dorme mais. Tem fusso horário também, talvez, então vai estar tudo bagunçado de qualquer jeito.

Elena de Regoyos
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