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jueves, 26 de septiembre de 2013

E quando o seu bebê, criado com apego, só chora?

Sim, a criação com apego ou attachment parenting são bons para o bebê, se olhe por onde quiser se olhar. É beneficioso para o bebê e a criança. Ponto. Não tem discussão, pois está tudo devidamente demonstrado.

Agora, cuidado. Cuidado, porque o que não está demonstrado é que os bebês e as crianças criados com apego sejam mais calmos. Mais seguros de si, com certeza eles são. Mais confiantes neles mesmos, nos seus cuidadores (pai e mãe principalmente) e no mundo que habitam, absolutamente sim, eles são. Mais felizes, diria que obvio que sim, pois as necessidades deles são entendidas, aceitas e atendidas quando assim ele as comunica da única forma que sabe: resmungando primeiro, chorando depois. 

Que este conjunto de circunstancias leve à criança a ser mais calma, tem toda lógica. Com certeza. Que, de fato, conheçamos muitos bebês e crianças criados desta forma que são mais calmos, também. Não digo que não. Posso falar, afirmar e confirmar isso em primeira pessoa, por experiência propria e por observação dos outros. Só digo, e repito: CUIDADO.

Cuidado por que? Cuidado porque criar com apego garante o que eu coloquei no segundo parágrafo, sim. Mas isso não é garantia de "bebê calmo". Tem bebês criados no 100% dos apegos que não são tão calmos assim. Bebês que choram muito, bebês que não parecem ser tão felizes e satisfeitos com a vida e os cuidados que recebem como "aquele artigo" prometia. E não são uns poucos, viu?

Pratiquemos a empatia. Imaginemos que temos um bebê, nascido de parto natural em um ambiente calmo rodeado de pessoas cuidadosas, totalmente respeitado. Um bebê que mama no peito sempre que quer. Um bebê que não sabe o que é ficar no berço, no quarto dele, porque dorme junto aos pais, na cama deles. Atendido de dia e de noite com imediatez e calor humano. Um bebê que participa das atividades cotidianas da mãe, dos irmãos talvez, desde o lugar privilegiado que lhe oferece o colo da mãe, sempre bem colocadinho no sling, tão gostoso que a maioria dos cochilos acontecem nesse mesmo lugar. Digamos, um "bebê attachment parenting" pacote completo (isso da para outro post, porque isso do "pacote completo" também, vou te falar).

Ô vida boa! "Só que não", explica a mãe do bebê. Leia, leia o que esta mãe -imaginaria, composta por depoimentos de muitas mães as que ouço faz anos- escreve:

"Meu é um bebê chorão. Assim, com todas as letras e o feio de rotular. Mas ele parece nunca estar contente. Chora de noite, chora de dia. Não aceita ninguém que não seja eu. Nem o pai! Tive que reubicar o irmão no quarto dele, tadinho, porque todos no meu quarto não dava certo, o irmão acorvada no meio da noite de tanta choradeira, e estava o pó no dia seguinte, na escola. Ele está com saudades de mim, agora. Precisando de mim, do nosso contato habitual, do nosso abraço para adormecer. Mas com este bebê que só chora, está impossível.

Olha que já tirei os lácteos por se ele tinha alergia à PLV, já tirei o café, açucar, cha, chocolate, farinhas brancas, carne e quase até o arroz também da minha dieta. Não tem quem aguente dia após dia, semana após semana, mês após mês deste jeito. Até quando? Eu não sei mais o que fazer! Até pensei em renunciar ao tal do attachment parenting. Só não o faço porque vejo que com meu outro filho, com quem fiz todas estas coisas de forma instintiva, sem saber nem que isso tinha um nome -e ele também era um chorão, tenho que dizer-, deu certo, ou isso parece até hoje, pelo menos. Vejo os frutos de todos estes cuidados, do vínculo criado desta forma, a cada dia.

Mas que da vontade de jogar tudo pela janela... Ô se da! E de levar o bebê lá na casa da minha irmã, com uma notinha explicativa e sair fujindo... Brincadeira, tudo bem, não dou meu gorducho para ninguém, nem empresto, mas da vontade às vezes, viu? É dificil mesmo viver com este desconforto permanente no pequeno, e a sensação de estar fazendo alguma coisa errada, ou de não estar sabendo entender o que ele tem, ou não estar conseguindo solucioná-lo. Vive insatisfeito!

Sabe o pior? Quando me dizem -a cunhada, o vizinho, a professora da escola do mais velho...- que ele é assim porque claro, eu o tenho malacostumado, sempre dando colo, sempre com a teta fora, e claro, agora ele é assim por isso. Confesso que chego a duvidar. Pois é. Será que ele teria sido differente sem ter lhe dado colo constante desde que nasceu, ou lhe enfiando uma mamadeira bem cheiona antes de dormir? Olha, não sei não, mas não consigo ser mãe de outra forma, mais ainda vendo o meu mais velho, feliz e seguro como ele é hoje. Como eu ia deixar ele ai chorando no berço ou no carrinho, se o que queria era meu colo? Ah, não!

Mas me sinto mal quando me falam isso. Meu dia a dia como mãe não é facil, nada facil, e ainda me vem fulano ou chicrano dizer que é assim por culpa minha, por como eu faço as coisas. Ele deve ser muito esperto e ter as soluções a todos os problemas, né? na teoria é tão facil tudo! Ah, vai tomar no banho! Me ofereça um abraço, me da um colo, me escute um tempinho o desabafo, vai, disso que eu preciso. Mas não venha me julgar, não me critique! Você acha que isso vai ajudar em alguma coisa, é?

Procuro apoio no grupo de mães que frequento. Conheço elas já desde o meu primeiro, fazem parte da minha vida. É graças a elas que aguento, porque falar com elas é um sopro de ar fresco. Elas me compreendem, sabem do que eu falo. Porque não sou a única, sabe? Muitas delas tem ou tiveram bebês calminhos, desses como os que "o artigo" sobre o attachment parenting fala. Mas algumas tiveram filhos como os meus. De chorar noite e dia, de não se contentar com nada. Extenuante. 

Alguns já tem 3, 4 ou 5 anos, como o meu, e passa, um dia passa, é verdade, mas que demora para chegar e o caminho é duro, isso é. O bom é que elas passaram ou estão passando pelo mesmo que eu, e isso me faz sentir mais comprendida. Até porque vendo como são os filhos delas, uns mais chorões, outros menos, outros nada chorões, vejo que tem de tudo, e que praticando todas um mesmo estilo de criação cada u acaba sendo diferente mesmo.

Depois chegam outras fases, e a choradeira da fase bebê passa, mas chegam novos desafios. Tem algumas com problemas de filhos -criados sem castigos, nem gritos, criados no apego- que batem nos outros no parque, ou que dão chilique por qualquer coisa em casa. O meu mais velho não costuma, se bem agora está em uma fase dificil e anda mais desafiante. Imagino que é pelas saudades dos nossos momentos, que quase não temos mais. Cada filho de cada amiga é diferente dos outros, inclusive dentro da mesma família. Criar com apego não garante bebês nem crianças mais fáceis, não. Até porque não criamos assim para eles serem fáceis, isso seria domesticação, e não criação. Criamos para eles serem atendidos como como eles precisam ser atendidos, e para eles serem felizes, e seguros de si.

Então, sabe com a conclussão que eu fico? Com estar dando ao meu filho o melhor de mim, o que eu sei que lhe faz bem: meu colo, minha empatia, meu leite, minha presença. Às vezes acaba a minha paciencia, é verdade, mas depois volto a ser eu, e não consigo fazer as coisas de outra forma, porque sei que outra forma é lhe tirar todo aquilo do que ele precisa. E não quero um filho resignado a não me pedir o que precisa, não quero um filho que não chora porque sabe que não adianta. Eu sei que esta forma de criar é um investimento a longo prazo, um presente para a vida toda, para a saude mental e emocional deles.

Agora, não me venham os artigos falar sobre bebês calmos criados com apego, porque sinceramente, isso me ofende. Eles podem ser calmos, ou podem ser menos calmos, Inclusive podem ser nada calmos. Não temos garantia de nada e ninguém pode dizer o contrário. E eu não crio desta forma apenas com o objetivo de ter um bebê que não me dê trabalho (bem que eu queria!!). Eu escolho dar colo, peito e atenção porque sei que isso é bom para ele, que isso são necessidades básicas dele que precisam ser atendidas, que ele se beneficia já e vai se beneficiar sempre destes cuidados oferecidos hoje. E só".

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miércoles, 18 de septiembre de 2013

Querido filho: Que teus transgressores cachos loiros te façam livre

Querido filho,

Antes de nada: eu te amo. Isso, sempre, antes de nada. A partir daí, queria muito te dizer, que eu te amo e te amarei, sempre, independientemente das suas escolhas. Às vezes não vou gostar delas, e nem o seu pai, isso é assim. Vai ser dificil para a gente lidar com essas diferenças, pois é mais confortavel concordar em tudo, né? Mas não é realista. Nem seu pai e eu concordamos na maioria das coisas, e mesmo assim nos amamos, e amamos vocês.

O complicado é que sempre vamos ter pessoas aoredor que julgam, criticam e questionam as nossas escolhas, chegando a ser realmente desconfortavel. E no fundo disso existe uma grande maioria de críticas aos outros baseadas, não no que elas acham (acredito que nem pararam para pensar em por que acham o que acham da maioria das coisas), senão no que a tradição e a cultura, a matrix, nos impõe.

Você tem um cabelo lindo. Você sabe, não é, meu amor? Todo o mundo diz, e cada vez que eu corto o seu cabelo você me pede: "não tire os amarelinhos, ta?". Mas agora você resolveu que não quer mais cortar, e daí surge o problema. Não, o problema não é que o seu cabelo entra no olho meu filho, como os outros querem te fazer pensar. De fato eles mesmos tentam se convencer a si mesmos de que esse é o verdadeiro problema. Tomara. Teria facil solução, e a tem, de fato. O curioso é que a solução, uma fita na cabeça que tira os cabelos do olho, parece incomodar mais ainda.

Não, o problema é muito mais complexo. O problema é que um menino de cabelo comprido incomoda, e um menino com fita na cabeça, ou rabinho com prendedor, incomoda mais ainda, da mesma forma que incomodava quando o seu irmão queria colocar brincos e pintar as unhas. Lembra daquilo? A sociedade dita que os meninos da nossa cultura devem levar o cabelo curto, sem acesórios, e não usar brincos. Depois, de adultos, já se julgam menos (?) esses usos. A sociedade prega para, pelo menos, preservarmos as crianças destas modernices e idéias transgressoras.

Você irá me perguntar que transgrede o que, concretamente, um menino com cabelo comprido e acesórios. Pois é meu filho, transgrede uma coisa que dói muito: transgrede a norma. Que onde fica a norma, para doer assim? Fica bem no fundo do cérebro, em um lugar de difícil aceso e, por tanto, quase imposivel de mexer. Dificil de entender para uma criança? Também para mim, que sou adulta. Mas a norma dói e muito, quando é transgredida. Talvez porque as pessoas se sentem perdidas quando fazem, ou vem fazer, aquilo com o que não estão acostumados.

Hoje os coleguinhas da sua sala riram de você porque chegou com uma fita elástica tirando o cabelo dos olhos, já que ontem não quis que eu o cortasse. A professora tinha pedido para não ir mais com cabelo nos olhos, e nós concordamos. "É menina", te disseram hoje, e te empurraram. Daí vem a sombra, o medo do bullying.

Teu pai e eu não queremos te ver sofrer, não queremos que você se sinta na obrigação de encarar os moinhos de toda uma sociedade ancorada na matrix.

Seria tão mais facil decidir por você, mandar cortar o seu cabelo e pronto! Seria tão mais facil sermos todos iguais, e gostarmos das mesmas coisas! Seria tão mais facil mandar os gordos serem magros, os espoletas se acalmarem, os afeminados virarem macho e os muito intelectuais serem melhores no futebol! Seria tão melhor ninguém ser objeto de críticas e ninguém criticar os outros! Está em mim a solução, te obrigando a fazer o que você não quer, por ordem da matrix? Ah... isso seria demasiado facil.

Mas o que você quer, filho? Sei, sei que não quer cortar esse cabelo. E a franja só, para ele não entrar nos olhos? Não gosta? Entendi, na verdade eu também não vou com a cara de uma franja. Mas temos que procurar uma maneira do seu cabelo não ficar entrando nos seus olhos. Que tal a fita segurando esse cabelo para trás? Você gostou muito quando a colocamos outro dia! Mmmhh, já sei... não quer que te digam de novo que é menina?

E então? O que fazer? Uma solução, cortar o cabelo, te deixa em uma situação desconfortavel contigo mesmo, te obriga a fazer o que você não quer, para ficar de acordo com o que a maioria da sociedade espera de você. A outra, colocar uma fita ou elástico, te deixa em uma situação desconfortavel com os outros, que tiram sarro e te chamam de menina. O que você quer? Fazer escolhas é duro sempre.

Não serei eu quem te obrigue a fazer uma coisa ou a outra. Gostaria poder te evitar todos os sofrimentos do mundo, sim, mas não a custo da sua liberdade. O que eu te desejo, filho, é que você seja corajoso o suficiente para ser consequente com as suas escolhas, em lugar de botar na mãos dos outros as escolhas sobre o que você deve ser e fazer. Sei que é mais facil assim, é verdade, pois tira a sua responsabilidade na horas das consequências. Mas com certeza não te faz mais feliz.

Não, não quero que os amiguinhos, a professora e nem a sociedade decidam por você. Mas para evitar isso não vou ser eu, nem o teu pai, quens façamos a mesma coisa. As suas escolhas, aquelas que a sua idade já te permite tomar, são suas, assim como as consequencias das mesmas. Só assim você será livre, hoje e para o resto da sua vida. E nós sempre estaremos ao seu lado.


Elena de Regoyos para MamaÉ me mima
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martes, 10 de septiembre de 2013

Da falta de coragem para encarar as novas fases e dos filhos como objeto de consumo

Acabei de ler um artigo de minha amiga e magnifica escritora Fernanda França sobre a maternidade. Nele reage contra o augurio social de que, na maternagem, tudo sempre "vai piorar" defendendo a idéia de que, para ela, muito pelo contrário: só melhora. "Nem piora, nem melhora", tenho escrito nos comentários, "apenas muda", e cada fase com as suas gostosuras e, claro, também com os seus desafios. Recém nascido, bichinho indefeso com cheiro de útero, bebezão gostoso que sorri, engatinhador que conquista o mundo, caminhante que desafia as proprias limitações, falador de primeiras palavras que da vontade de guardar numa caixinha dos tesouros para sempre... E assim por diante!

Lembrei, então, daquele artigo que quero escrever faz dias.

Hoje mesmo também respondi um email para uma amiga, mãe amantíssima, mulher maravilhosa, que estava muito preocupada pela mudança de sentimentos em relação ao filho de três anos. Não se sente mais apaixonada por ele, sente necessidade de se abrir a um mundo de opções e oportunidades que a estavam aguardando lá fora e se cobra ao respeito. "Não deveria me sentir assim", pensa.

E então veio de novo me rondar o artigo querendo ser parido. E sentei de uma vez para tentar escrevê-lo (com permiso dos meus três filhos). Vamos lá, então. Vou começar, consciente das inúmeras interrupções com as que vou ter que lidar.

Mudar, aceitar, se adaptar ou morrer... de frustração

A vida toda é passar de um contexto e momento vital ao seguinte. E isso, sim senhor, implica renuncias, assim como também ganhos. Melhor? Pior? Depende de para quem. Eu diria que diferente. Vamos, então, aceitar a nova realidade e nos adaptar a ela, ou preferimos viver frustrados ao perceber que é materialmente impossivel que "tudo seja como antes"?

Quando passamos de bebê a criança perdemos coisas tão gostosas como o colo permanente, por exemplo, para ganhar independência de movimentos e escolha. Depois, ao chegar a adolescência, ficamos sem esses cuidados mais mimosos que toda criança merece (ainda me lembro das batatas fritas caseiras só para mim que tinha sempre na hora do almoço em casa, e que aos poucos foram sumindo do panorama) para curtir mais o mundo além do lar, os amigos, primeiros namoros, segredinhos cheios de emoção, todo um mundo lá fora esperando ser conquistado!

E chegamos a juventude familiarizados com aquele mundo lá fora, no qual nos movimentamos confortavelmente, mas sentindo inmensas saudades da emoção daquelas primeiras descobertas. E acabamos a faculdade, aqueles anos loucos e com frequencia sem grandes preocupações, para encarar a realidade do mundo laboral. Agora seremos mais independientes, sim, mas cadê o "faço o que eu quero práticamente quando eu quero"?

E podemos namorar, talvez casemos, ou viremos freira ou padre, cooperante internacional... Tanto faz! Vamos fazer escolhas conscientes para passar, sempre, ao estatus seguinte, que vai trazer mudanças à nossa vida, e que implica renuncias, também, irremediavelmente. Quer encará-las ou vamos bricar de "aqui não aconteceu nada"?

E chegamos aos filhos

Porque é essa, precisamente, a impressão que tenho com uma grande maioria de casais que vem a ser pai e mãe. Passam uma gestação linda talvez se preparando para o parto, e imaginando daqui a uns meses um bebê fofissimo e gorducho no berço, nova decoração na casa, agora com mobiles e papel de parede no antigo quarto de hóspedes. Daí o bebê chega e a maior necessidade desse casal, de pronto, parece ser "ir voltando ao normal" quanto antes, "retomar a nossa vida", e outras similares.

Tsz, tsz... vocês já estão vivendo a sua (nova) vida, viu? O que é exatamente "voltar ao normal", "retomar o ritmo ou a vida"? Voltar a ser crianças, ou talvez adolescentes?
-"Ah, não, isso já ficou para trás".

Voltar a namorar, morando na casa dos pais?
-"Não, não, já não estávams mais nessa".

Então o que é o que vocês querem?
-"Pois é... o que queremos é voltar a nossa vida de quando éramos um casal apenas, antes de ter filhos, só que agora com filhos... Só que não, né? Porque é isso aí, agora temos um filho. Ai Jesus, e agora?"
E daí que a ficha (pode) cai(r).

Sempre lembro que em algum livro ou artigo do pediatra Carlos González, ele diz que do mesmo modo que os noivos fazem despedidas de solteiros quando vão mudar de estatus, antes de casar, os casais sem filhos deveriam fazer um tipo de ritual similar quando estiverem esperando um filho, para começar assimilar a mudança de estatus e o que ela vai lhes trazer junto. Acho uma idéia ótima de se pensar.

Opções para todos os gostos

Bom, para alegria de muitos pais e mães, e para tristeza dos filhos deles, tem autores super mega famosos e enriquecidos que vendem milhares de livros e programas de TV sobre coisas que você pode fazer para "poder retomar a sua vida", mesmo depois de ter um filho. Coisas que fazem com que, a pesar de você agora ter que tomar conta e velar pela felicidade, segurança, estabilidade e saude de alguém totalmente vulneravel, você consiga seguir com a sua vida como se não fosse assim.

Me explico. Se o bebê resulta que vive chorando para "conseguir que" você o pegue no colo de forma quase permanente os primeiros meses, tem técnicas para que ele se malacostume ao carrinho ou berço, e deixe de encher o teu saco. Ou senão, você paga uma babá e pronto, enche o saco dela e não o seu. Você pode seguir com as suas coisas, "retomar a sua vida".

"Ah, não, mas é que esse serzinho precisa se alimentar, e dizem que se é a travês de mim, sua mãe, é o mais recomendavel. Gente, mas ele quer se alimentar toda hora, que saco, assim não consigo fazer as minhas coisas". Pois é... Então tem pessoas dispostas a te fazer crer que não é tão importante isso de amamentar, e que agora você pode enfiar neles um leite de fórmula (leite de vaca modificado, em pó), em mamadeira, que pode ser dada por qualquer pessoa, e assim não tem que ficar a disposição do bebê, podendo "voltar à sua vida".

"Mas e de noite? Ele acorda gente! Todas as noites! Várias vezes! Inclusive agora que já se passaram X semanas, meses ou anos!". Bom, ai temos também autores que explicam como podemos ignorar o nosso filho, mesmo ele vomitando de tanto chorar!, com tabelas de tempo e substitutos de pelúcia para mitigar a nossa culpa, até ele se resignar ao abandono noturno aprender a dormir sozinho e não nos chamar mais de noite. Assim poderemos "recuperar a nossa vida", com as suas noites inclusive.

Técnicas e opções, todas estas, que anulam o filho, para ele não atrapalhar a nossa vida, e poder seguir na maior medida possivel, com "a vida de antes". Temos um filho, podemos levá-los para passear lindamente vestidos, fazer festas multitudinarias de aniversário e presumir de dobrinhas (só deles) nas fotos do facebook, sem por isso vermos práticamente alterada a nossa "vida normal", a de antes, aquela na qual dormiamos a noite toda, saiamos com os amigos, faziamos viagens e usavamos salto alto.

Ter um filho: o último objeto de consumo



E eu me pergunto: essas pessoas queriam filhos ou bonecos? Porque, vou te contar, vendem uns bonecos (art reborn, chama-se) inspirados em bebês reais, carissimos porém lindos de morrer (quero um, aviso, um dia me dou o capricho para passear com ele de sling e matar as saudades quando a minha pequena crescer), que são uma maravilha. Tamanho, peso, feições, cabelos, veias e demais detalhes de bebê real, feitos artesanalmente. Autênticas obras de arte! E olha só, eles não choram, não precissam ser amamentados, dormem as 24 horas do dia e nem cocó eles fazem!

Porque a impressão que eu tenho é que, na sociedade consumista de hoje, ter um filho é o último grande capricho. Tipo assim: "Ontem comprei uma bolsa, hoje fui ao show daquele cara de moda, amanhã quero fazer uma viagem internacional, e depois posso ter um filho, que já "ta na hora". Bom, melhor uma filha, que é mais fofa e vem cheinha de complementos e opções: fitas para o cabelo, brincos, mini bikinis, vestidos e saias, sandálias com brilhos e muito mais". Tem para todos os gostos, viu? Meninas para mamães clásicas, de laço e fita; meninas para mamães modernas, hippies, esportistas... O bom do consumismo é que se adapta a todos.

Ontem, hoje e amanhã

Mas o que tinha a ver o artigo da Fernanda França e a conversa com a amiga triste com tudo isso? Tinha a ver que a vida é deixar uma fase para passar a outra. Sempre assim. Às vezes para melhor, outras para pior, e a maioria simplesmente diferente. Com suas perdas e seus ganhos. Se é consequencia de escolhas nossas, é covarde não aceitar os desafios e se adaptar as novidades, e não ajuda em nada não fazê-lo, ademais. Se é consequência do proprio decorrer da vida (nascimento, crescimento, morte), de que adianta negar a nova fase? A quem queremos enganar? E quem sai prejudicado? Lamentavelmente nos enganamós só a nós mesmos, e a quem queira acreditar que "a vida pode voltar ao normal" (que não são poucos!), mas se tratando de filhos, quem sai prejudicado é a criança.

A minha amiga está também mudando de fase, saindo do puerperio, do apaixonamento eufôrico inicial natural pelo filho, necessário para cuidá-lo como uma leoa e criar esse vínculo que vai durar a vida toda. Agora essa paixão tem virado amor. Amor incondicional, que não é mais paixão. E é para ser assim mesmo, porque senão a gente não vive, vendo os filhos crescerem e voando livres. Termina o puerperio e eles começam deixar de ser "nossos" para começar a ser cada vez mais "deles mesmos". Novas fases chegam: agora o corpo nos pede voltar a focar em nós, nos nossos projetos. É empolgante, é uma nova fase. O filho vai ser sempre prioridade na nossa vida mas estamos, de novo, abertas ao mundo e a nós mesmas.

A vida, gente, não "volta ao normal" nunca, seja o que fôr que tenha acontecido nela, porque "o normal" não existe, o normal de hoje é o que são as coisas no dia de hoje. E a vida é diferente cada dia, porque nem nós mesmos somos hoje a mesma pessoa de ontem, nem o entorno é o mesmo em que vivemos ontem. Tudo, a gente principalmente, muda a cada dia. E se chega um filho às nossas vidas, nem se fale então. Um tempinho mais limitado enquanto cria e curte o bebê, que depois vai voltar a sair de noite se quiser, e a fazer viagens. De novo, sim, mas não da mesma forma, porque você e o seu contexto não são mais os mesmos! Quer voltar à sua vida de antes? Sinto lhe informar que... não pode! Encare a vida de agora, se adapte a ela e a viva em plenitude, aprendendo a expremer o suco gostoso que ela está te oferecendo, em lugar de ficar lembrando do gosto do suco que tomou ontem, e que já acabou.

Texto de Elena de Regoyos para MamaÉ
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domingo, 8 de septiembre de 2013

Pensemos... no "cantinho de pensar"

Meu marido vive sonhando com o dia em que logremos arrumar o escritório aqui de casa, atualmente "quarto da bagunça", com caixas de slings, brinquedos para doar, minha barriga de gesso esperando ser pintada e tantas e tantas coisas mais. Ele, meu marido, gosta de estudar, de pensar, de refletir, de ler... E sejamos realistas, numa casa com três filhos menores de 10 anos, isso é práticamente impossivel de exercer, salvo em horas tão tardias que nem o nosso proprio intelecto-corpo agüenta as palpebras caindo.

Por contra, a mega famosa, admirada, odiada e criticada Jo Frost, a tal da Supernanny, trousse o "pensar" como algo rotineiro e habitual na vida das crianças dos século XXI. Peraí, não se empolgue ainda, não. Puxa, que pena que ela o fez com connotações negativas, heim? Essa supernanny trousse tanta coisa contra a qual argumentar agora!! Vamos lá, então, com o tal do "cantinho de pensar".

Pensar é ruim?

Mas pensar não é uma coisa gostosa? Pensar não é o que queremos que os nossos filhos consigam fazer por si sós, com prazer e resultados positivos? Como, então o castigo de moda hoje em dia é colocar eles "para pensar"? Que idéia do pensar vão ter, se isso é um castigo na vida deles? Como vamos pretender que eles gostem e desejem pensar, se lhes é imposto como consequencia negativa à uma ação errada?

Sei, sei... Trata-de de pensar "no que eles fizeram". Mas de verdade você acha que uma criança, que é ação (fazer) e não abstração (pensamento), vai ficar ai sentada pensando no que ela fez? Nas causas e consequencias do que ela fez? Você de verdade acredita que o raciocinio dela consigo mesma nessa hora vai ser: "olha só Gustavinho, você tirou o brinquedo da mão da Eduarda e ela chorou... Portanto, Gustavinho, não é legal tirar os brinquedos da mão dos outros, eles choram... Pronto, entendi por que estou aqui sentado, pensei produtivamente".

E aí gente, seria ótimo se fosse assim, heim? Mas sejamos realistas... Vocês acham mesmo que a criancinha (às vezes de um ano ou menos!) é capaz de se abstraer até tal ponto? Você acha que ela, inclusive em idade de raciocinar em parte, se sentindo humilhada, menosprezada, castigada num cantinho, vai pensar produtivamente uma coisa assim? Se fosse assim, seria ótimo, concordo.

Em caso de a gente ajudar eles a enxergar essa causa-consequencia do que eles fizeram... Para que, então, pensar mesmo depois no cantinho sobre isso? De novo lhes pergunto: De verdade vocês acham que eles vão dedicar esse tempo a refletir sobre isso? Ou o cantinho de pensar é apenas um castigo a mais como poderia ser "ficar sem sobremesa", "se ajoelhar cara a parede" ou "não asistir mais TV"?

Para que serve, em realidade?

Quer dizer, o cantinho de pensar é de verdade para PENSAR, ou é apenas mais uma forma de lhes dizer: "Você fez errado, vai ter uma consequencia por isso"? Nesse caso, não é mais facil lhes mostrar qual é a consequencia, real, do que eles fizeram errado? Algo do tipo: "Olha, você correu com o copo na mão, e assim o suco caiu. Agora o chão está sujo e vamos ter que limpar". Açao-reação. Se o suco caiu, vamos ter que limpar. Limpar é chato (como brincadeira é legal, combinemos, mas como obrigação é chato, sim), então da próxima vez vou tomar cuidado para não correr com o suco na mão, pois senão vou ter que limpar.

Se a consequencia negativa do que eles fizeram é sempre a mesma, e não tem relação com o que eles fizeram de errado, só conseguimos:

1. Resentimento.

2. Habituação.

Pois é, chega um dia em que o tal do cantinho de pensar não é mais chato. Claro que não lhes faz pensar em nada, e se converte apenas num tempinho que devo esperar para voltar as minhas coisas. Não ensina nada. Nada além de "outros lá encima tem poder sobre mim e podem me obrigar a ficar aqui entediado e humilhado quando eles considerem". E isso, por desgraça, não traz nada de positivo, e muito de negativo: resentimento, despreocupação com as proprias ações, falta de empatia, isolamento e compreensão do mundo como um jogo de poder no qual um dia nós vamos estar lá encima, como agora estamos embaixo, impondo o que nós considerarmos apropriado mediante o exercicio do poder.

Além disso, a criança vai se sentir muito mal consigo mesma, a sua autoestima vai cair ("nossa, olha o que eu fiz, olha o que eu estou merecendo por isso, sou ruim mesmo"). É isso o que queremos para os nossos filhos? Ou queremos que sejam consequentes com as proprias ações, compreendendo que as coisas boas e ruins que eles fazem tem consequencias, e agindo conscientemente? Dessa forma, talvez consigamos que em lugar dos nossos filhos agir apenas para conseguir um prêmio ou evitar um castigo, o façam pela satisfação do certo, ou a insatisfação do errado. Lhes deixando, por outro lado, errar e acertar sozinhos, para poder saborear uma coisa e a outra. Sem prêmios nem castigos. O prêmio, o castigo, é a propria consequencia da ação!

O castigo impede de fazer isso... na frente do castigador apenas

O que você sentiria (o que você, de fato, sente) se, quando comete um erro ou faz alguma coisa ruim para outra pessoa (por um impulso incontrolavel ou sem querer mesmo), é isolada, reprimida, criticada e obrigada a pensar no que fez? Provavel e primeiramente você vai se sentir humilhada, pois uma vez passado o impulso que te levou à ação, você já deve ter percebido que o que acabou de fazer não é legal nem resolve nada. Mas alguém, de fora, veio te impor um castigo, veio evidenciar perante você mesmo, e com frequencia perante os outros, que você fez errado e está pagando por isso.

É a antiga tradição de colocar orelhar de burro para aquele que não aprendia a lição. Humilhação pública. Deixar uma pessoa sentada num cantinho pensando no que ela fez é, sim, muito humilhante. Isso pode levar ao resentimento, seja contra si mesmo (por ter provocado isso) ou contra quem levou o castigo a acontecer. Isso não ensina! Isso magoa, machuca, rompe relações, acaba com a autoestima, e não faz aprender mais nada do que "posso ser castigado".

Se a gente ensina que "se eu te vier fazendo isso vai ser castigado" (cantinho de pensar é castigo, sim), a criança não vai parar de fazer isso. Apenas vai parar de fazê-lo na frente da pessoa com poder de lhe castigar. Mas na hora que a pessoa virar as costas, está livre de fazer aquilo, pois a única coisa que lhe levava a não fazê-lo era a ameaça do castigo, e não as consequencias da propria ação em si. Se a criança, por contra, aprender que "se eu puxo o cabelo da Luisinha ela chora, porque puxar o cabelo machuca, e daí ela não quer mais ficar aqui comigo", ela está aprendendo a verdadeira consequencia do que ela fez.

O que as crianças querem, e o que os pais queremos que queiram

Outra coisa é ela querer realmente que a Luisinha fique ai com ela. É um desejo da criança ou da mãe da criança, que gosta de ficar batendo um papo com a mãe da Luisinha? Nesse caso, o fato da Luisinha chorar e querer ir embora é a consequencia procurada. Eles tem ainda muito para aprender socialmente. Efetivamente, puxar o cabelo dela e fazê-la chorar não é a forma apropriada de comunicar à nossa mãe que "estou de saco cheio da Luisinha na minha casa pegando os meus brinquedos e roubando o meu tempo em exclusiva com você". Usam as vias de comunicação que estão ao seu alcance.

Talvez estejamos exigindo do nosso filho coisas que não são proprias da idade deles, ou que não são as que eles mesmos querem, senão as que a gente quer que eles queiram. Que tal um olhar empático, em lugar do castigo facil, nos lavando as mãos?

A longo prazo

E isso, pais e mães, como todo na educação, não acontece de hoje para amanhã. É um exercício a longo prazo. Requer da gente confiança. Confiança nas nossas escolhas, confiança na falta de maldade natural nos nossos filhos, confiança em que "quem semea, colhe", confiança no proprio ritmo de desenvolvimento da criança, confiança num futuro mais humano... Confiança. Não é facil, não, gente!

Elena de Regoyos para MamaÉ
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