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domingo, 8 de septiembre de 2013

Pensemos... no "cantinho de pensar"

Meu marido vive sonhando com o dia em que logremos arrumar o escritório aqui de casa, atualmente "quarto da bagunça", com caixas de slings, brinquedos para doar, minha barriga de gesso esperando ser pintada e tantas e tantas coisas mais. Ele, meu marido, gosta de estudar, de pensar, de refletir, de ler... E sejamos realistas, numa casa com três filhos menores de 10 anos, isso é práticamente impossivel de exercer, salvo em horas tão tardias que nem o nosso proprio intelecto-corpo agüenta as palpebras caindo.

Por contra, a mega famosa, admirada, odiada e criticada Jo Frost, a tal da Supernanny, trousse o "pensar" como algo rotineiro e habitual na vida das crianças dos século XXI. Peraí, não se empolgue ainda, não. Puxa, que pena que ela o fez com connotações negativas, heim? Essa supernanny trousse tanta coisa contra a qual argumentar agora!! Vamos lá, então, com o tal do "cantinho de pensar".

Pensar é ruim?

Mas pensar não é uma coisa gostosa? Pensar não é o que queremos que os nossos filhos consigam fazer por si sós, com prazer e resultados positivos? Como, então o castigo de moda hoje em dia é colocar eles "para pensar"? Que idéia do pensar vão ter, se isso é um castigo na vida deles? Como vamos pretender que eles gostem e desejem pensar, se lhes é imposto como consequencia negativa à uma ação errada?

Sei, sei... Trata-de de pensar "no que eles fizeram". Mas de verdade você acha que uma criança, que é ação (fazer) e não abstração (pensamento), vai ficar ai sentada pensando no que ela fez? Nas causas e consequencias do que ela fez? Você de verdade acredita que o raciocinio dela consigo mesma nessa hora vai ser: "olha só Gustavinho, você tirou o brinquedo da mão da Eduarda e ela chorou... Portanto, Gustavinho, não é legal tirar os brinquedos da mão dos outros, eles choram... Pronto, entendi por que estou aqui sentado, pensei produtivamente".

E aí gente, seria ótimo se fosse assim, heim? Mas sejamos realistas... Vocês acham mesmo que a criancinha (às vezes de um ano ou menos!) é capaz de se abstraer até tal ponto? Você acha que ela, inclusive em idade de raciocinar em parte, se sentindo humilhada, menosprezada, castigada num cantinho, vai pensar produtivamente uma coisa assim? Se fosse assim, seria ótimo, concordo.

Em caso de a gente ajudar eles a enxergar essa causa-consequencia do que eles fizeram... Para que, então, pensar mesmo depois no cantinho sobre isso? De novo lhes pergunto: De verdade vocês acham que eles vão dedicar esse tempo a refletir sobre isso? Ou o cantinho de pensar é apenas um castigo a mais como poderia ser "ficar sem sobremesa", "se ajoelhar cara a parede" ou "não asistir mais TV"?

Para que serve, em realidade?

Quer dizer, o cantinho de pensar é de verdade para PENSAR, ou é apenas mais uma forma de lhes dizer: "Você fez errado, vai ter uma consequencia por isso"? Nesse caso, não é mais facil lhes mostrar qual é a consequencia, real, do que eles fizeram errado? Algo do tipo: "Olha, você correu com o copo na mão, e assim o suco caiu. Agora o chão está sujo e vamos ter que limpar". Açao-reação. Se o suco caiu, vamos ter que limpar. Limpar é chato (como brincadeira é legal, combinemos, mas como obrigação é chato, sim), então da próxima vez vou tomar cuidado para não correr com o suco na mão, pois senão vou ter que limpar.

Se a consequencia negativa do que eles fizeram é sempre a mesma, e não tem relação com o que eles fizeram de errado, só conseguimos:

1. Resentimento.

2. Habituação.

Pois é, chega um dia em que o tal do cantinho de pensar não é mais chato. Claro que não lhes faz pensar em nada, e se converte apenas num tempinho que devo esperar para voltar as minhas coisas. Não ensina nada. Nada além de "outros lá encima tem poder sobre mim e podem me obrigar a ficar aqui entediado e humilhado quando eles considerem". E isso, por desgraça, não traz nada de positivo, e muito de negativo: resentimento, despreocupação com as proprias ações, falta de empatia, isolamento e compreensão do mundo como um jogo de poder no qual um dia nós vamos estar lá encima, como agora estamos embaixo, impondo o que nós considerarmos apropriado mediante o exercicio do poder.

Além disso, a criança vai se sentir muito mal consigo mesma, a sua autoestima vai cair ("nossa, olha o que eu fiz, olha o que eu estou merecendo por isso, sou ruim mesmo"). É isso o que queremos para os nossos filhos? Ou queremos que sejam consequentes com as proprias ações, compreendendo que as coisas boas e ruins que eles fazem tem consequencias, e agindo conscientemente? Dessa forma, talvez consigamos que em lugar dos nossos filhos agir apenas para conseguir um prêmio ou evitar um castigo, o façam pela satisfação do certo, ou a insatisfação do errado. Lhes deixando, por outro lado, errar e acertar sozinhos, para poder saborear uma coisa e a outra. Sem prêmios nem castigos. O prêmio, o castigo, é a propria consequencia da ação!

O castigo impede de fazer isso... na frente do castigador apenas

O que você sentiria (o que você, de fato, sente) se, quando comete um erro ou faz alguma coisa ruim para outra pessoa (por um impulso incontrolavel ou sem querer mesmo), é isolada, reprimida, criticada e obrigada a pensar no que fez? Provavel e primeiramente você vai se sentir humilhada, pois uma vez passado o impulso que te levou à ação, você já deve ter percebido que o que acabou de fazer não é legal nem resolve nada. Mas alguém, de fora, veio te impor um castigo, veio evidenciar perante você mesmo, e com frequencia perante os outros, que você fez errado e está pagando por isso.

É a antiga tradição de colocar orelhar de burro para aquele que não aprendia a lição. Humilhação pública. Deixar uma pessoa sentada num cantinho pensando no que ela fez é, sim, muito humilhante. Isso pode levar ao resentimento, seja contra si mesmo (por ter provocado isso) ou contra quem levou o castigo a acontecer. Isso não ensina! Isso magoa, machuca, rompe relações, acaba com a autoestima, e não faz aprender mais nada do que "posso ser castigado".

Se a gente ensina que "se eu te vier fazendo isso vai ser castigado" (cantinho de pensar é castigo, sim), a criança não vai parar de fazer isso. Apenas vai parar de fazê-lo na frente da pessoa com poder de lhe castigar. Mas na hora que a pessoa virar as costas, está livre de fazer aquilo, pois a única coisa que lhe levava a não fazê-lo era a ameaça do castigo, e não as consequencias da propria ação em si. Se a criança, por contra, aprender que "se eu puxo o cabelo da Luisinha ela chora, porque puxar o cabelo machuca, e daí ela não quer mais ficar aqui comigo", ela está aprendendo a verdadeira consequencia do que ela fez.

O que as crianças querem, e o que os pais queremos que queiram

Outra coisa é ela querer realmente que a Luisinha fique ai com ela. É um desejo da criança ou da mãe da criança, que gosta de ficar batendo um papo com a mãe da Luisinha? Nesse caso, o fato da Luisinha chorar e querer ir embora é a consequencia procurada. Eles tem ainda muito para aprender socialmente. Efetivamente, puxar o cabelo dela e fazê-la chorar não é a forma apropriada de comunicar à nossa mãe que "estou de saco cheio da Luisinha na minha casa pegando os meus brinquedos e roubando o meu tempo em exclusiva com você". Usam as vias de comunicação que estão ao seu alcance.

Talvez estejamos exigindo do nosso filho coisas que não são proprias da idade deles, ou que não são as que eles mesmos querem, senão as que a gente quer que eles queiram. Que tal um olhar empático, em lugar do castigo facil, nos lavando as mãos?

A longo prazo

E isso, pais e mães, como todo na educação, não acontece de hoje para amanhã. É um exercício a longo prazo. Requer da gente confiança. Confiança nas nossas escolhas, confiança na falta de maldade natural nos nossos filhos, confiança em que "quem semea, colhe", confiança no proprio ritmo de desenvolvimento da criança, confiança num futuro mais humano... Confiança. Não é facil, não, gente!

Elena de Regoyos para MamaÉ
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