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domingo, 23 de febrero de 2014

A mãe que eu sou, graças e a pesar de minhas circunstâncias

Tenho uma amiga, Carolina, que é cega. Ela se preocupa porque os filhos dela (videntes) vão deixar de fazer algumas coisas por causa da deficiencia visual dela. Ela pensa que vai limitar eles, e que, portanto, eles vão ter uma vida pior.

O que eu acho ao respeito? O que eu acho é que Carolina é cega e não pode acompanhar aos filhos sozinha em certos lugares, assim como Mariana é doula e deve trabalhar certos dias e noites sem planificação, inclusive o dia do aniversário do filho; Cristina é mãe solteira e não pode se dividir com o pai quando ela ou os filhos precisem, Laura é muito tímida e fica sem participar e nem levar aos filhos em determinados encontros e festas sociais nas quais poderiam se divertir e Marcela é diretora executiva de uma grande empresa, sobrando quase nada de tempo para desfrutar da família. Cada uma com suas limitações, cada uma com suas vantagens. Sim, sim, porque todo na vida tem duas leituras. Toda moeda tem duas caras.

Cada uma de nós, com nossas qualidades proprias ou adquiridas, com nossas circunstâncias, podemos oferecer a nossos filhos grandes lições de vida e alma, e também lhes privaremos de outras coisas. Fato.

Tem aquela famíila com avós no interior, que todas as férias vão para lá se juntar com um enorme bando de primos e tios, tomam banho no rio, comem comidas caseiras maravilhosas, perseguem pintinhos e vivem livres, por umas semanas, se sabendo "em casa" ao ar livre. Tem às festas da cidade, as lojas de sempre onde o padeiro lhes conhece e costuma lhes dar alguma guloseima quando eles passam pela frente, as mesmas pessoas de sempre, as mesmas excursões, os mesmos esconderijos e cabanas, os amigos das fêrias, os primeiros namoros. O que eles pensarão que ganharam quando, adultos, lembrem das fêrias da infância deles? Do que eles, porém, foram privados?

Agora pensemos em essas outras famílias que, em cada fêrias, viajam para um destino diferente. Ora praia, ora montanha, esquí, pousadas ou até hotéis, Disney, aviões. Paisagens novas a cada viagem, línguas e comidas diversas, passeios cheios de descobertas, esportes de aventura, almoços em restaurantes. Amizades intensas e fugazes, beijos adolescentes e volta "à nossa vida". O que estas crianças, quando crescerem, vão lembrar com carinho daquelas fêrias? E do que, talvez, sintam falta quando ouvem falar àqueles outros?

Cada circunstância, cada condição, cada união de duas pessoas, cada um de nós, vamos trazer com a nossa pessoa, com o que nós somos, vantagens e disvantagens. Cada um de nós, com nossas circunstâncias (buscadas ou engolidas) vamos abrir janelas e oferecer caminhos aos nossos filhos, deixando outras fechadas. Talvez se abram amanhã, ou bem depois. Ou nunca. Podemos ficarmos nos lamentando por todas essas janelas que estão e vão permanecer fechadas por causa do que somos/temos, desejando o impossível para abrí-las, ou que alguém venha e as abra por nós. Existe, porém, a alternativa de pular para fora dessas outras que se abrem, e desfrutar desse caminho com o que ele nos oferece!

O que isso nos traz é a oportunidade de procurar o melhor com o que temos e com o que somos. Podemos lhes ensinar as vantagens da nossa circunstância, o que isso nos oferece de bom. Podemos, também, ser realistas com aquilo do que isso nos priva, não precisamos olhar para outro lado.

À qualidade de ser positivo, de optimizar o que somos e temos, é tão rica que faz com que as pessoas sejam felizes, e não vivam desejando ter ou ser o que não tem e nem são.

E aí? Você é pior que o vizinho, ou simplemente é "você com suas circunstâncias, e todo o que elas tem para oferecer"?

Texto de Elena de Regoyos para MAMAÉ ME MIMA
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