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sábado, 7 de abril de 2012

Para uma maternidade feliz: Menos controle e mais entrega

Reflexões de uma mãe de três, quase um mês depois de parir a terceira...

Faz algumas semanas, no grupo Samauma de apoio ao parto humanizado, do qual tenho participado durante a minha gravidez, falavam sobre a importância do controle (ou da falta dele) para poder parir “em paz”. Se entregar ao corpo, aos ritmos dele e do bebê que vai chegar, sem controlar tempos, centímetros nem sensações. Só entrega. O papo foi interessante, pois a maioria das mães –e pais- presentes coincidia na opinião de que hoje em dia é missão quase impossível se entregar a qualquer processo, mais ainda a um processo do nosso próprio corpo, com um 100% de entrega e confiança, e um 0% de intenção de controle sobre o mesmo.

E aqui me vejo eu, após quase um mês do meu terceiro puerperio, pensando e sentindo nas minhas carnes isso do controle, a entrega e a confiança. Pois, no relativo a estes conceitos, o que se aplica para o parto, se aplica também à maternidade.

Eis aqui as minhas conclusões-sensações:

Meu marido me dizia ontem que quando todas as pessoas –principalmente os pais de primeira viagem- lhe dizem que “a sua casa deve de ser uma loucura, com três filhos”, ela sente que longe disso ser verdade, o que acontece é tudo o contrário. Que as coisas são bem mais fáceis agora, com três, do que antes, com dois, ou até muito antes, com um só, com o primeiro.

Com a terceira filha, parece que as dificuldades se solucionam sozinhas, parece que as coisas rolam sem complicações, parece que tudo é natural e normal.

Parece? Ou realmente é?

Com a minha terceira filha, junto com esta facilidade e naturalidade à hora de agir, eu tenho percebido uma ausência total de controle. Ausência de controle, no caso da maternidade, não significa “descontrole”, senão entrega, desfrute, amor, curtição...

E isso, na prática, como é? Na minha experiência é assim:

-Não olhar o relógio quando ela resmunga, “por se ela pode querer mamar”, e sim diretamente oferecer a teta para ela. Si mama, bem. Si brinca com o bico, também bem. Se não quer mamar... Não mama!!

-Significa não me importar com saber que horas são quando acorda de noite –o que adianta esse dado? Vai mudar alguma coisa se é meia noite ou se são 03h15min da manhã?-, ou quando ela cai no sono de novo. Significa, por tanto, deixar de calcular quantas horas vou dormir nessa noite, fazendo as contas de quantas horas já dormi antes que acordasse a vez anterior, mais as que faltam ainda para o despertador me acordar, descontando os minutos que ainda vai ficar acordada no resto da noite.

-Significa nem sequer ter noção de quantas vezes ela acorda durante a noite. Simplesmente eu vou dormir junto com ela à hora que pretendo que ale vá dormir, e acordo quando ela acorda, assim como quantas vezes for necessário durante a noite, e muitas delas quase sem percebê-lo, pois a minha cerejinha dorme bem ao meu lado, grudadinha em mim. Desse jeito eu posso respirar o seu hálito de leitinho a noite toda, sentir o seu calor pele com pele e amamentá-la sem ter que levantar da cama nem quase acordar. Isso, para mim –e não só com a terceira filha- é só vantagem.

-Não controlar significa também curtir cada minuto que ela está no meu colo, que são quase todos no dia, sem me preocupar com o fato dos brinquedos dos meninos ainda estarem espalhados pela sala, ou se está ficando tarde para preparar o almoço. Hoje almoçamos ovo frito e ponto. E os brinquedos ficam para outra hora ou dia. Porque estes dias de filha recém nascida não vão voltar mais, e eu quero mergulhar em cada um deles.
-Significa decidir sem me sentir culpada ou "menasmain", e por muito que seja “a hora do banho”, não passar por esse ritual hoje, pois segundo qual seja o seu estado de animo isso pode deixar ela mais irritada em lugar de acalmada, Qual o problema? Garanto que não vai acontecer nada de ruim com ela pelo fato de não tomar banho um dia ou outro.

-Significa não me importar com quantas vezes tiro a teta de baixo da blusa, e nem mesmo me importar com deixar ela fora da blusa por um tempinho, esteja em um lugar público ou particular, na frente de um garçom, amigos do marido ou pais e mães dos amiguinhos dos meus filhos na festinha de aniversário de um deles.

-Significa não levar um controle exaustivo de quantas gramas ela pesa, porque me basta com ver as pernonas dela engrossando quase por dias.

O que os outroa fazem, ou dizem...

-Significa não me importar em absoluto com como os outros fazem, pretendem fazer ou já fizeram com os filhos deles. Si dormiam com eles na cama, davam chupeta ou faziam shantala a partir de quantos meses e por quantos minutos ao dia.

-No relativo a como agir com ela; onde, como e quando levá-la para dormir; onde, como e quando alimentá-la, banhá-la, passeá-la, pegá-la no colo..., me preocupo basicamente pela minha filha e por mim. Escuto o meu instinto –na terceira já fala alto e claro, ou melhor dito, já o escuto alto e claro- e escuto o meu coração, que está totalmente ligado ao dela, e assim consigo escutar e atender as necessidades da minha filha, que são só dela e que estão longe de aparecer explicadinhas por pontos e com data marcada no calendário em livro nenhum, boca de conhecidos, amigos, vizinhos e familiares, e nem papo de especialistas, por muitos CDs que eles tenham vendido.
Em definitiva, “maternar” é um conceito inversamente proporcional a “controlar”.

Quanto menos você “controle” os horários, quantidades e costumes alheias, e mais você se centre em vocês dois, mais você vai curtir o seu bebê e o seu -novo ou não- papel de mãe.

Quanto menos você se importe com o “deveria ser, deveria comer, deveria dormir, deveria arrotar, deveria...”, mais estará respeitando as necessidades e fases do desenvolvimento do seu próprio filho, que são únicas, como ele é.

E quanto mais você escute o seu coração, e menos os “eu acho” dos diversos opinólogos dos quais está o mundo cheio, mais feliz você vai ser. Respeite as suas decisões como mãe, vindas do seu sentir como tal, e os outros as respeitarão também. Sem dúvida, o seu filho vai lhe agradecer, e você vai ser muito mais feliz, se sentindo plena e competente.

Porque só você, mãe, sabe do que seu filho está precisando. Que ninguém lhe faça duvidar.

Por enquanto eu vou continuar curtindo da nossa “fase bicho”, sem regras, pois como o meu marido me disse ontem na mesma conversa: “você será jornalista, coach parental ou consultora em amamentação, mas o que eu vejo em você é uma mãe profissional, e graças a isso a menininha vai poder ser bicho até que ela quiser”.

-Prohibida la reproducción total o parcial de este artículo sin el consentimento de la autora:

Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e coach parental
-Consultora de slings e amamentação
Tlf (Br) +55 19-9391 4134 / Tlf (Esp) +34 696 08 25 21

6 comentarios:

  1. Lara Heller Gordon8 de abril de 2012, 0:02

    Que linda, Elena! Que sorte tem Alicia! A conexão com o coração eh sempre o melhor caminho quando se trata de maternar. Me identifiquei com seu momento... o de entrega absoluta e me sinto tão feliz! São quase 4 da manhã e me sinto revigorada com minha pequena que cresce saudável e a olhos vistos. Beijo e parabéns pela mãe e pela profissional que eh!

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  2. Obrigada Lara! É uma delícia se sentir assim, né? Sei que você compartilha este sentir. Parabens também a você, Ana Flor também é uma linda afortunada, aos seus cuidados vindos do coração.

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  3. Ai, muito legal!!!!! Eu, na minha primeira experiência, diria que sou uma somatória de controle e descontrole... Agora, especialmente com meu filhinho de recem 7 meses, estou no total controle das suas horas de sonos com choros ao longo dos dias e especialmente ao longo das noites, contabilizando quanto acordo, quanto durmo, mas nao por mim especificamente, mas porque tenho a sensação de como meu filho começou a dormir mal a noite e a acordar mil e uma vezes.... Controlo as horas e os minutos, mas procuro atender como bicho (seria possível?); me preocupo demais!!!! Neste caso, nao pelas opinioes alheias, mas por ele somente, que tem seu comportamento bem alterado.... agir como bicho, ou deixar seu filho ser bicho é muito bom, mas sinto que em algumas situações parece dificil ou até esquecido... De qq forma, o artigo me tirou sorrisos com minha contabilidade noturna!!! E em ver como o momento da nossa doula e sua filhota e familia está empura harmonia! Muito bom! ;) Beijos no coração! Dani

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  4. Rsrsrsrsrs, pois é Dani, no final das contas, não é que somos um "bicho que pensa"? Dificil mesmo chegar à combinação certa, que, por outro lado, para cada um, ou até para um mesmo em distintos momentos da vida, é diferente ;)
    (Se eu falei de contabilizar minutos noturnos é porque eu também o fiz em algum momento, viu? E me resulta taaaaão liberador descobrir que não sinto mais necesidade de fazê-lo!! Mas naquela hora eu precisava saber, sim, quantos minutos estava acordada e quantos dormida, e somá-los e... enfim, bicho racional mesmo)

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  5. Oi Elena, só agora li o que vc escreveu, mas tbm penso assim, e sou muito feliz.
    Minha filha tem 1 ano e 9 meses, e vejo o quanto é feliz, pelas escolhas que eu e meu marido fizemos, sem se importar com que os outros iriam pensar...
    Sempre que puder vou acompanhar seu blog!

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    1. Muito obrigada pelas palavras Aline, e parabens por sua maternagem!

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