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viernes, 5 de abril de 2013

Chega! (Claro que) não somos perfeitas, ué!

Sou mãe e sou doula. Me considero uma boa mãe, e também uma boa doula. Eu fujo da pretensão de perfeição. Porque... o que é "perfeição"? Provavelmente para você faz parte dela o fato de ser uma mãe que mantém os filhos sempre limpos, e para outra pessoa é ao contrário, aquela mãe que deixa os filhos mais lambuçadinhos. É só um exemplo sem importáncia. Para mim é ótima uma mãe que se respeita a si mesma e que respeita os filhos, tentando fazer o seu melhor, se informando e se esforçando, e que não sempre o consegue. Uma mãe que aprende também disso, e que faz com que os filhos também saibam errar e se perdoem quando isso aconteça, para poder seguir em frente.

Faz tempo uma "conhecida íntima" me disse que tinha ficado decepcionada comigo quando viu -em pessoa- que eu não era uma mãe perfeita. Peraí... Você achava que eu era isso? Mas de verdade você achava que alguém é "isso"? Como diz minha admirada Ana Cristina Duarte, "nem eu, que sou perfeita, sou perfeita".

Meus textos sobre maternidade não falam do que eu sou. Falam das coisas nas que eu acredito, falam das coisas às que eu aspiro ser na maior medida possível. Mas é obvio que não respondo às minhas espectativas como mãe o 100% das vezes, nem de longe! E é claro também que muitas, mas muitas vezes, não respondo as espectativas que os meus proprios filhos tem de mim. Imaginem só se eu tivesse, também, que responder as espectativas que cada mãe tem de mim, só porque "sou doula"!

Não gente, eu também perco a paciência -dependendo de fases, até demais-, porque eu também tenho dias ou fases em que meus filhos me deixam exausta, porque eu também tenho conflitos entre o que eu quero e preciso, e o que eles querem e precisam de mim... Porque eu também sou mãe e sou humana, como eles. Como você.

Conheci uma doula que não levava as filhas dela nos encontros com outras mães para não se mostrar "sem paciência" com elas na frente das outras, que esperavam dela um outro nível de evolução como mãe. Fala sério, e agora me expresso como doula de puerpêrio... Como vamos transmitir às mães que recurrem a nós que não devem se exigir tanto, que não podem aspirar à perfeição nem pretender ser a mãe que os outros esperam que ela seja, senão aquela que ela pode e deseja ser, se nem nós mesmas, as doulas que lhes dizemos isso, nos comportamos assim?

Preciso transmitir à mãe que perder a paciência com o filho e falar com ele bruscamente faz parte disto às vezes, ao igual que se desculpar depois nos mostrando humanas, que não aguentar mais ser mãe em determinados momentos é normal... Mas eu devo me mostrar "perfeita" e "evoluida", sem falar nunca uma palavra mais alta que a outra para o meu filho na frente dela, para ela pensar que pode confiar no que lhe digo, pois eu já alcancei esse nível superior como mãe, que nem fala palavrão nem aumenta o volume da voz nunca?

Eu já caí nessa

Me lembro muito bem de como eu cheguei a ter sérias dúvidas durante a minha gestação sobre se a Ana Cristina Duarte seria a minha parteira ideal. Como expliquei no meu relato de parto, eu queria e desejava uma parteira "mãe, mística, amorosa e sobrenatural", como pareciam ser as dos relatos de parto de muitas mulheres que eu lia. E Ana Cristina Duarte é uma mulher que fala alto e claro, à qual nunca imaginaria com um halo de luz etérea ao redor, como acontece com outras parteiras ou doulas que conheço. Agora, ela é uma parteira 100% humanizada, que acredita no que faz e fala do que acredita. Ela é direta, é firme, é segura, é sarcástica... E também me demonstrou -me dando uma lição de humildade- que podia, além de tudo isso, ser acolhedora, carinhosa, maternal, empática e entregue. Que ela não dance pelada com flores na cabeça e tomando chá de hervas místicas à luz da lua cheia (*) não quer dizer que seja menos parteira, menos acolhedora nem menos humanizada. Cuidado com as nossas espectativas, e cuidado com as imagens preconcebidas!

(* : Ou talvez ela dance, sim? As coisas geralmente nunca são o que parecem ser. Na verdade acredito que ela amaria fazer isso, e até já deve ter feito, rodeada de boas amigas, porque com certeza deve ser muito divertido)

A minha imagem atual de perfil do facebook
Várias pessoas próximas vem me dizendo um dia ou outro que que eu não deveria postar certas coisas no facebook porque dão uma imagem de mim não apropriada à minha profissão. Que não fale palavrão, que não me mostre irritada e nem coloque imagens "grossas", como aquela vez que postei as mil formas de denominar "buceta" em português (achei curiosissimo pois, como falei nesse post, eu nunca tive nome para essa parte do corpo, o que genera um grande conflito em mim, e sobre como denominá-lo com os meus filhos). Que tudo isso não bate com a minha imagem de perfil (presente da linda Anne Pires).

Respondo de minha profissionalidade, não da imagem que deveria dar

Eu sou como sou. E uma das minhas caraterísticas mais claras é a transparência. Sou um livro aberto. Se estou chateada, você vai saber; se estou decepcionada, vai ser evidente; se estou alegre, com certeza ninguém vai ter dúvidas. Se um virus entra no meu computador e quer roubar as minhas claves, provavelmente vou falar palavrão e vai me irritar que alguém me interrompa, mesmo meus filhos aos que tanto amo e me dedico.

Não tenho intenção de me vender como o que não sou "para captar atendimentos". Você quer uma doula com sorriso angelical e olhar transparente? Eu te digo que existem, as conheço, aprecio e admiro, e são tão boas ou tão ruins quanto eu. A escolha é sua, por sorte! Mas não fique esperando de mim que por ser doula me transforme automáticamente em um ser místico e etéreo, porque nem isso é garantia de nada mas que de, talvez, "o sorriso angelical e o olhar transparente". O resto vai com as qualidades de cada uma.

Que eu tenha capacidade de entender o que uma mãe está vivenciando, empatizar com as difficuldades dela, ajudá-la a superá-las, escutar ativamente o que ela me conta e lhe dar respostas informadas e satisfatórias...

Que eu possa conseguir que ela se escute a si mesma e saber o que de verdade está sentindo e que assim logre adivinhar do que está precisando...

Que eu consiga que essa mãe se empodere como tal, que confie nela mesma e decida conscientemente sobre a maternidade segundo o que ela é, e segundo o que ela quer para o seu filho...

Que eu tenha ferramentas pessoais e profissionais para ela lograr que a amamentação dela funcione, e que também acabe dominando a técnica para carregar o filhote num sling de forma adequada e confortavel...

Que eu faça tudo isso, como doula de puerperio que sou, não faz de mim um "ser de luz" com halo ao redor do corpo, que nunca se revolta e jamais comete erros com os filhos, comigo mesma, ou com os outros. Isso não vinha junto com o diploma.

Se você espera de mim a perfeição, então procure outra, eu não vou responder a essa espectativa. E se espera isso de mim, cuidado... O que espera de você mesma, então?

Elena de Regoyos para MamaÉ
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7 comentarios:

  1. Apalusos!!! Parabéns pela sinceridade e posso te dizer que vc tem um halo de luz em torno de si e é totalmente transparente!!!
    Aprendi mto aqui no blog onde cheguei pesquisando um canguru pra minha bebê e fui lendo seus artigos num momento da amamentação que necessitava mto...minha filha esta com 1 ano e 3 meses mamando feliz!Graças ao canguru que comprei aqui minha vida é totalmente facilitada,então só acho que esse seu modo direto e sincero facilita mto as coisas...a maneira como escreve nos transmite muito conteúdo.Deixa eu ir que minha pequena tá chamando!Bjs

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  2. MARAVILHOSO, com isso minha admiração e respeito por vc aumentou ainda mais!!! Me sinto muito mais segura lendo isso de vc, pois realmente já me vi muitas vezes pensando em como vc agiria em tal situação e agora tenho essa resposta: vc agiria provavelmente assim como eu!!~!! Somos mães e humanas!!! Obrigada

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  3. Admiro-te mais e mais. E acabei de descobrir nossa empatia, também sou transparente e sincera, às vezes acho que até demais. Só que eu ainda estou aprendendo a baixar minhas expectativas de perfeição, e cada dia dou um assinho, com a ajuda de pessoas especiais como você. Bjs

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  4. Obrigada lindas... Vocês que me fazem crescer e aprender a cada dia. Grata.

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  5. Elena! Não tinha lido ainda este post! Muito bom, me identifiquei como mãe e profissional (im)perfeita! Ainda bem!! beijos

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  6. Que bom Larissa! Obrigada! É bem liberador, né? :)

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