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jueves, 26 de septiembre de 2013

E quando o seu bebê, criado com apego, só chora?

Sim, a criação com apego ou attachment parenting são bons para o bebê, se olhe por onde quiser se olhar. É beneficioso para o bebê e a criança. Ponto. Não tem discussão, pois está tudo devidamente demonstrado.

Agora, cuidado. Cuidado, porque o que não está demonstrado é que os bebês e as crianças criados com apego sejam mais calmos. Mais seguros de si, com certeza eles são. Mais confiantes neles mesmos, nos seus cuidadores (pai e mãe principalmente) e no mundo que habitam, absolutamente sim, eles são. Mais felizes, diria que obvio que sim, pois as necessidades deles são entendidas, aceitas e atendidas quando assim ele as comunica da única forma que sabe: resmungando primeiro, chorando depois. 

Que este conjunto de circunstancias leve à criança a ser mais calma, tem toda lógica. Com certeza. Que, de fato, conheçamos muitos bebês e crianças criados desta forma que são mais calmos, também. Não digo que não. Posso falar, afirmar e confirmar isso em primeira pessoa, por experiência propria e por observação dos outros. Só digo, e repito: CUIDADO.

Cuidado por que? Cuidado porque criar com apego garante o que eu coloquei no segundo parágrafo, sim. Mas isso não é garantia de "bebê calmo". Tem bebês criados no 100% dos apegos que não são tão calmos assim. Bebês que choram muito, bebês que não parecem ser tão felizes e satisfeitos com a vida e os cuidados que recebem como "aquele artigo" prometia. E não são uns poucos, viu?

Pratiquemos a empatia. Imaginemos que temos um bebê, nascido de parto natural em um ambiente calmo rodeado de pessoas cuidadosas, totalmente respeitado. Um bebê que mama no peito sempre que quer. Um bebê que não sabe o que é ficar no berço, no quarto dele, porque dorme junto aos pais, na cama deles. Atendido de dia e de noite com imediatez e calor humano. Um bebê que participa das atividades cotidianas da mãe, dos irmãos talvez, desde o lugar privilegiado que lhe oferece o colo da mãe, sempre bem colocadinho no sling, tão gostoso que a maioria dos cochilos acontecem nesse mesmo lugar. Digamos, um "bebê attachment parenting" pacote completo (isso da para outro post, porque isso do "pacote completo" também, vou te falar).

Ô vida boa! "Só que não", explica a mãe do bebê. Leia, leia o que esta mãe -imaginaria, composta por depoimentos de muitas mães as que ouço faz anos- escreve:

"Meu é um bebê chorão. Assim, com todas as letras e o feio de rotular. Mas ele parece nunca estar contente. Chora de noite, chora de dia. Não aceita ninguém que não seja eu. Nem o pai! Tive que reubicar o irmão no quarto dele, tadinho, porque todos no meu quarto não dava certo, o irmão acorvada no meio da noite de tanta choradeira, e estava o pó no dia seguinte, na escola. Ele está com saudades de mim, agora. Precisando de mim, do nosso contato habitual, do nosso abraço para adormecer. Mas com este bebê que só chora, está impossível.

Olha que já tirei os lácteos por se ele tinha alergia à PLV, já tirei o café, açucar, cha, chocolate, farinhas brancas, carne e quase até o arroz também da minha dieta. Não tem quem aguente dia após dia, semana após semana, mês após mês deste jeito. Até quando? Eu não sei mais o que fazer! Até pensei em renunciar ao tal do attachment parenting. Só não o faço porque vejo que com meu outro filho, com quem fiz todas estas coisas de forma instintiva, sem saber nem que isso tinha um nome -e ele também era um chorão, tenho que dizer-, deu certo, ou isso parece até hoje, pelo menos. Vejo os frutos de todos estes cuidados, do vínculo criado desta forma, a cada dia.

Mas que da vontade de jogar tudo pela janela... Ô se da! E de levar o bebê lá na casa da minha irmã, com uma notinha explicativa e sair fujindo... Brincadeira, tudo bem, não dou meu gorducho para ninguém, nem empresto, mas da vontade às vezes, viu? É dificil mesmo viver com este desconforto permanente no pequeno, e a sensação de estar fazendo alguma coisa errada, ou de não estar sabendo entender o que ele tem, ou não estar conseguindo solucioná-lo. Vive insatisfeito!

Sabe o pior? Quando me dizem -a cunhada, o vizinho, a professora da escola do mais velho...- que ele é assim porque claro, eu o tenho malacostumado, sempre dando colo, sempre com a teta fora, e claro, agora ele é assim por isso. Confesso que chego a duvidar. Pois é. Será que ele teria sido differente sem ter lhe dado colo constante desde que nasceu, ou lhe enfiando uma mamadeira bem cheiona antes de dormir? Olha, não sei não, mas não consigo ser mãe de outra forma, mais ainda vendo o meu mais velho, feliz e seguro como ele é hoje. Como eu ia deixar ele ai chorando no berço ou no carrinho, se o que queria era meu colo? Ah, não!

Mas me sinto mal quando me falam isso. Meu dia a dia como mãe não é facil, nada facil, e ainda me vem fulano ou chicrano dizer que é assim por culpa minha, por como eu faço as coisas. Ele deve ser muito esperto e ter as soluções a todos os problemas, né? na teoria é tão facil tudo! Ah, vai tomar no banho! Me ofereça um abraço, me da um colo, me escute um tempinho o desabafo, vai, disso que eu preciso. Mas não venha me julgar, não me critique! Você acha que isso vai ajudar em alguma coisa, é?

Procuro apoio no grupo de mães que frequento. Conheço elas já desde o meu primeiro, fazem parte da minha vida. É graças a elas que aguento, porque falar com elas é um sopro de ar fresco. Elas me compreendem, sabem do que eu falo. Porque não sou a única, sabe? Muitas delas tem ou tiveram bebês calminhos, desses como os que "o artigo" sobre o attachment parenting fala. Mas algumas tiveram filhos como os meus. De chorar noite e dia, de não se contentar com nada. Extenuante. 

Alguns já tem 3, 4 ou 5 anos, como o meu, e passa, um dia passa, é verdade, mas que demora para chegar e o caminho é duro, isso é. O bom é que elas passaram ou estão passando pelo mesmo que eu, e isso me faz sentir mais comprendida. Até porque vendo como são os filhos delas, uns mais chorões, outros menos, outros nada chorões, vejo que tem de tudo, e que praticando todas um mesmo estilo de criação cada u acaba sendo diferente mesmo.

Depois chegam outras fases, e a choradeira da fase bebê passa, mas chegam novos desafios. Tem algumas com problemas de filhos -criados sem castigos, nem gritos, criados no apego- que batem nos outros no parque, ou que dão chilique por qualquer coisa em casa. O meu mais velho não costuma, se bem agora está em uma fase dificil e anda mais desafiante. Imagino que é pelas saudades dos nossos momentos, que quase não temos mais. Cada filho de cada amiga é diferente dos outros, inclusive dentro da mesma família. Criar com apego não garante bebês nem crianças mais fáceis, não. Até porque não criamos assim para eles serem fáceis, isso seria domesticação, e não criação. Criamos para eles serem atendidos como como eles precisam ser atendidos, e para eles serem felizes, e seguros de si.

Então, sabe com a conclussão que eu fico? Com estar dando ao meu filho o melhor de mim, o que eu sei que lhe faz bem: meu colo, minha empatia, meu leite, minha presença. Às vezes acaba a minha paciencia, é verdade, mas depois volto a ser eu, e não consigo fazer as coisas de outra forma, porque sei que outra forma é lhe tirar todo aquilo do que ele precisa. E não quero um filho resignado a não me pedir o que precisa, não quero um filho que não chora porque sabe que não adianta. Eu sei que esta forma de criar é um investimento a longo prazo, um presente para a vida toda, para a saude mental e emocional deles.

Agora, não me venham os artigos falar sobre bebês calmos criados com apego, porque sinceramente, isso me ofende. Eles podem ser calmos, ou podem ser menos calmos, Inclusive podem ser nada calmos. Não temos garantia de nada e ninguém pode dizer o contrário. E eu não crio desta forma apenas com o objetivo de ter um bebê que não me dê trabalho (bem que eu queria!!). Eu escolho dar colo, peito e atenção porque sei que isso é bom para ele, que isso são necessidades básicas dele que precisam ser atendidas, que ele se beneficia já e vai se beneficiar sempre destes cuidados oferecidos hoje. E só".

Elena de Regoyos para MamaÉ me mima
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3 comentarios:

  1. Tão importante essa sua colocação! Parabéns pelo texto, parece até estar quebrando um "tabu"!

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    1. Obrigada querida! Fico feliz em saber que gostou <3
      Beijo na Giulinha fofa!

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  2. Que texto bacana, obrigada por compartilhar!! É exatamente como me sinto muitas vezes, quando o bebê chora muito, no âmago de atender às necessidades, achamos que não estamos fazendo direito. E já participei de grupos de mães que acreditam que você está "fazendo errado " como se a criação com apego fosse a garantia de bebês perfeitos risonhos que só choram de fome ou fralda suja.
    E são raríssimos os parentes que demonstram alguma empatia.
    A grande verdade pra mim é que, desde que engravidamos "já estamos erradas", achar com quem compartilhar as frustrações da maternidade é mais raro que ver estrela cadente na cidade. Kkkkkkk
    Mais uma vez, obrigada pelo texto que me fez sentir que, mesmo tropeçando, estou trilhando um bom caminho para o meu filho.

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