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miércoles, 18 de septiembre de 2013

Querido filho: Que teus transgressores cachos loiros te façam livre

Querido filho,

Antes de nada: eu te amo. Isso, sempre, antes de nada. A partir daí, queria muito te dizer, que eu te amo e te amarei, sempre, independientemente das suas escolhas. Às vezes não vou gostar delas, e nem o seu pai, isso é assim. Vai ser dificil para a gente lidar com essas diferenças, pois é mais confortavel concordar em tudo, né? Mas não é realista. Nem seu pai e eu concordamos na maioria das coisas, e mesmo assim nos amamos, e amamos vocês.

O complicado é que sempre vamos ter pessoas aoredor que julgam, criticam e questionam as nossas escolhas, chegando a ser realmente desconfortavel. E no fundo disso existe uma grande maioria de críticas aos outros baseadas, não no que elas acham (acredito que nem pararam para pensar em por que acham o que acham da maioria das coisas), senão no que a tradição e a cultura, a matrix, nos impõe.

Você tem um cabelo lindo. Você sabe, não é, meu amor? Todo o mundo diz, e cada vez que eu corto o seu cabelo você me pede: "não tire os amarelinhos, ta?". Mas agora você resolveu que não quer mais cortar, e daí surge o problema. Não, o problema não é que o seu cabelo entra no olho meu filho, como os outros querem te fazer pensar. De fato eles mesmos tentam se convencer a si mesmos de que esse é o verdadeiro problema. Tomara. Teria facil solução, e a tem, de fato. O curioso é que a solução, uma fita na cabeça que tira os cabelos do olho, parece incomodar mais ainda.

Não, o problema é muito mais complexo. O problema é que um menino de cabelo comprido incomoda, e um menino com fita na cabeça, ou rabinho com prendedor, incomoda mais ainda, da mesma forma que incomodava quando o seu irmão queria colocar brincos e pintar as unhas. Lembra daquilo? A sociedade dita que os meninos da nossa cultura devem levar o cabelo curto, sem acesórios, e não usar brincos. Depois, de adultos, já se julgam menos (?) esses usos. A sociedade prega para, pelo menos, preservarmos as crianças destas modernices e idéias transgressoras.

Você irá me perguntar que transgrede o que, concretamente, um menino com cabelo comprido e acesórios. Pois é meu filho, transgrede uma coisa que dói muito: transgrede a norma. Que onde fica a norma, para doer assim? Fica bem no fundo do cérebro, em um lugar de difícil aceso e, por tanto, quase imposivel de mexer. Dificil de entender para uma criança? Também para mim, que sou adulta. Mas a norma dói e muito, quando é transgredida. Talvez porque as pessoas se sentem perdidas quando fazem, ou vem fazer, aquilo com o que não estão acostumados.

Hoje os coleguinhas da sua sala riram de você porque chegou com uma fita elástica tirando o cabelo dos olhos, já que ontem não quis que eu o cortasse. A professora tinha pedido para não ir mais com cabelo nos olhos, e nós concordamos. "É menina", te disseram hoje, e te empurraram. Daí vem a sombra, o medo do bullying.

Teu pai e eu não queremos te ver sofrer, não queremos que você se sinta na obrigação de encarar os moinhos de toda uma sociedade ancorada na matrix.

Seria tão mais facil decidir por você, mandar cortar o seu cabelo e pronto! Seria tão mais facil sermos todos iguais, e gostarmos das mesmas coisas! Seria tão mais facil mandar os gordos serem magros, os espoletas se acalmarem, os afeminados virarem macho e os muito intelectuais serem melhores no futebol! Seria tão melhor ninguém ser objeto de críticas e ninguém criticar os outros! Está em mim a solução, te obrigando a fazer o que você não quer, por ordem da matrix? Ah... isso seria demasiado facil.

Mas o que você quer, filho? Sei, sei que não quer cortar esse cabelo. E a franja só, para ele não entrar nos olhos? Não gosta? Entendi, na verdade eu também não vou com a cara de uma franja. Mas temos que procurar uma maneira do seu cabelo não ficar entrando nos seus olhos. Que tal a fita segurando esse cabelo para trás? Você gostou muito quando a colocamos outro dia! Mmmhh, já sei... não quer que te digam de novo que é menina?

E então? O que fazer? Uma solução, cortar o cabelo, te deixa em uma situação desconfortavel contigo mesmo, te obriga a fazer o que você não quer, para ficar de acordo com o que a maioria da sociedade espera de você. A outra, colocar uma fita ou elástico, te deixa em uma situação desconfortavel com os outros, que tiram sarro e te chamam de menina. O que você quer? Fazer escolhas é duro sempre.

Não serei eu quem te obrigue a fazer uma coisa ou a outra. Gostaria poder te evitar todos os sofrimentos do mundo, sim, mas não a custo da sua liberdade. O que eu te desejo, filho, é que você seja corajoso o suficiente para ser consequente com as suas escolhas, em lugar de botar na mãos dos outros as escolhas sobre o que você deve ser e fazer. Sei que é mais facil assim, é verdade, pois tira a sua responsabilidade na horas das consequências. Mas com certeza não te faz mais feliz.

Não, não quero que os amiguinhos, a professora e nem a sociedade decidam por você. Mas para evitar isso não vou ser eu, nem o teu pai, quens façamos a mesma coisa. As suas escolhas, aquelas que a sua idade já te permite tomar, são suas, assim como as consequencias das mesmas. Só assim você será livre, hoje e para o resto da sua vida. E nós sempre estaremos ao seu lado.


Elena de Regoyos para MamaÉ me mima
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2 comentarios:

  1. Também penso e sinto assim. Se fosse com o meu filho, que tem 8 anos, eu comprava, porque não sei fazer, uma boina masculina, estilo rastafari, para ele. Fica bonito, é artesanal, e encobre toda a cabeleira. Até o cabelo crescer e ficar mais fácil de amarrar. Felicidades!!!

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  2. Já tentei deixar o cabelo crescer mais é dificil pra caramba.

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