Fico feliz da colaboração entre a ONG Save The Children e o meu admiradíssimo pediatra espanhol Carlos González, autor de livros como "Bésame Mucho", "Un regalo para toda la vida, guía completa de lactancia materna", "Comer, amar, mamar" e "Mi niño no me come". Ele é um máximo no aleitamento materno, tomara que tivessem mais pediatras como ele...
Traduzido diretamente do site de Save The Children.
Carlos Gonzalez é pediatra e presidente da ACPAM, Associação Catalana Pro-Aleitamento Materno. É também uma das vozes mais conhecidas em métodos não-conductistas, conhecido como “attachment parenting”.
"A amamentação é essencial em qualquer plano de saúde materno-infantil. Reduz o risco de diarréia, infecções respiratórias, otites, meningite por Haemophilus e muitas outras infecções, bem como diabetes, síndrome da morte súbita infantil, obesidade e outros problemas de saúde.
Na mãe, a amamentação está associada a um menor risco de câncer de mama e câncer de ovário e de longo prazo com a redução de fraturas por osteoporose, por retardar o reinício da menstruação ajuda a economizar ferro e protege contra anemia, e produz de forma natural um espaçamento entre uma gravidez e outra que melhora a saúde e alivia a carga de trabalho da mãe, facilitando a sobrevivência de seus filhos. A UNICEF estima que, neste momento, a amamentação salva a cada ano seis milhões de vidas e pode salvar, no mínimo, um milhão a mais, se a amamentação até pelo menos dois anos (combinado com outros alimentos a partir de seis meses) se tornasse um costume generalizado.
No entanto, as mulheres têm amamentado durante milhões de anos sem saber todas estas "vantagens". E foi, justamente no século que estas vantagens têm sido descobertas, e nos países onde foram descobertas, onde a alimentação artificial se estendeu para relegar, faz algumas décadas, o aleitamento materno a uma situação quase anedótica da qual, felizmente, já esta se recuperando.
Temos de fugir da visão reducionista que vê a amamentação como uma ferramenta de saúde, como "o melhor alimento e remédio ideal", uma posição que muitas vezes leva à promoção do aleitamento materno como um direito (pior ainda, um "dever sagrado") da mãe. Amamentar é muito mais importante, muito mais profundo e mais poderoso do que um alimento ou medicamento.
Os argumentos médicos são os únicos, por exemplo, no caso das vacinas. Nós usamo-los apenas porque protegem contra a doença, que é a razão pela qual os profissionais as recomendam, o governo as distribui e as administram os pais. Ninguém usaria uma vacina se não acreditasse que protege contra uma doença.
Mas a amamentação é muito mais. Isto é o que a mãe e a criança estão preparadas para fazer instintivamente. Basta deixar o recém nascido no corpo da mãe, em contato pele a pele durante, pelo menos, um par de horas, e quase todos espontaneamente rastejam em direção ao peito e começam mamar.
A amamentação é uma demonstração física de afeto, como beijos ou carícias; é contato contra a solidão, conforto para o sofrimento, um momento de calma no turbilhão do dia. É o orgulho de se sentir única, insubstituível, plena, triunfante perante os obstáculos, adorada por seu filho.
Amamentar não é um dos sacrifícios que fazemos para prolongar a vida, senão uma das razões pelas quais queremos viver. Não é um meio para um fim, mas um fim em si.
Temos que reconhecer que os argumentos que motivam um médico ou um planejador de saúde para recomendar a amamentação não são as mesmas que levam uma mãe a amamentar. A maioria das mães que amamentam seus filhos, o fazem sem ter recebido a indicação do seu médico. Ou ainda, infelizmente, o fazem contra o conselho de seu médico.
Rotinas hospitalares obsoletas, a separação após o nascimento, o uso desnecessário de suplementos de leite artificial, as absurdas limitações de horários, freqüências e duração das mamadas, a obsessão para que toda criança ganhe peso acima da média (uma impossibilidade matemática) e falta de formação de muitos profissionais na hora de ajudar a resolver as dificuldades da amamentação (rachaduras, infecções, baixo ganho de peso...) têm feito que muitas mães percam esta importante etapa de suas vidas. Erros que tiveram conseqüências ainda mais graves quando as práticas ocidentais foram levadas para os países em desenvolvimento.
A recuperação da amamentação não vai acontecer convencendo as mães de suas vantagens, senão mudando as práticas hospitalares ("Hospital Amigo das Crianças"), melhorando a formação dos profissionais, fornecendo informações práticas, promovendo grupos de ajuda mútua, impedindo à indústria a propaganda enganosa e ampliando a licença de maternidade e outros direitos das mulheres que trabalham fora de casa".
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