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domingo, 1 de mayo de 2011

O que fazem as mães... Principalmente quando parece que não fazem nada

Em esses dias difíceis, desgastantes, sozinha com os meus filhos aqui em casa (como é habitual), costumo desabafar com a minha mãe a través do Skype. Eu lembro com clareza de um dia que eu falava assim para ela: “mãe, não consigo fazer nada, não consigo estudar para as provas, não consigo cozinhar, a casa esta daquele jeito... nem consigo brincar com eles direito”.

Minha mãe aquele dia conseguiu me acalmar com uma frase só, uma frase falada desde a experiência de uma mulher que criou 9 filhos. Ela disse assim: “você fala que não faz nada, mas cuidando e criando aos seus filhos você esta fazendo a carreira mais importante da sua vida”.

Eu senti meu esforço diário reconhecido (aliás, reconhecida pela minha mãe é muito mais do que reconhecida por qualquer outra pessoa), me senti reconfortada, e deixei de pensar que eu “não estava fazendo nada”. Pois estava fazendo, sim, coisas bem importantes.

Mas como é importante esse reconhecimento... assim como a falta dele, quando os outros (as vezes dentro de casa até) realmente pensam, de fato, que uma mãe “não esta fazendo nada” enquanto cuida dos seus filhos.

Visando o meu trabalho sobre a solidão das mães na sociedade atual, me foi fortemente recomendado um livro que ainda não comprei, mas sobre o qual já consegui pesquisar um pouco. Achei ótimo e, com certeza, muito indicado para todas vocês, mães, agora que chega a comemoração oficial do nosso dia...


Eu traduzi um fragmento do livro, “O que fazem as mães... Principalmente quando parece que não fazem nada”, da Psicoterapeuta Naomi Stadlen.

Espero que se sintam identificadas, valorizem seu trabalho diário e possam comemorar com mais consciência e orgulho ainda.

Parabéns a todas!!




A maioria das pessoas concorda com que ser mãe é um trabalho árduo. Mas qual é exatamente o trabalho de uma mãe? Em isso há menos acordo. As pessoas parecem pensar que cuidar de um bebê não tem nada a ver com o trabalho que é suposto para ser mãe.

Por exemplo, imagine uma mãe que está lavando a roupa de seu bebê. Sabe que o seu filho está dormindo, mas pode acordar a qualquer momento. De fato, alguns minutos depois a criança começa a chorar, então a mãe seca as suas mãos e vai rapidamente pegá-lo. Parece que ele esteja alterado, assim que o nina por um tempo. Então se pergunta se talvez ele tivesse tido um sonho ruim e começa a cantar uma música que gosta e consegue animá-lo. Qual dessas atividades é o seu trabalho?

A maioria das pessoas diria que para lavar as roupas é o seu trabalho, e que ao pegar seu bebê teve que parar de trabalhar. As mães muitas vezes falam de um doloroso sentimento de "fracasso" nos momentos em que, se prestarmos atenção, nós percebemos que elas estão cuidando de seus filhos. O outro também é verdadeiro.

Quando uma mãe está ocupada com tarefas concretas e visíveis, mas de aparência secundária respeito das tarefas maternas, é provável que ela e outros digam que ela esta "conseguindo trabalhar."

Hoje, uma mãe pode se sentir muito sozinha. A maioria das pessoas não estão cientes do que ela faz. Isto não é porque a maternidade mudou. Os elementos essenciais da maternidade parecem estar inalterados. Mas o mundo que rodeia a mãe está sempre mudando.

No entanto, as mães não podem deixar um vácuo social. Ser mãe é uma função privada e social. Cada mãe constrói uma ponte que liga o seu filho com a sociedade que todos nós compartilhamos. Se é uma boa ponte, o seu filho pode usá-la para acessar o mundo exterior. Essa ponte é baseada no seu relacionamento. Se você consegue se relacionar bem com seu filho, ele terá a oportunidade de se tornar uma pessoa que vai se relacionar bem com a gente. O conjunto da nossa sociedade depende de como cada mãe e filho se relacionam. Esse é o trabalho materno.

A maioria das mães estão muito preocupadas com que as pessoas ao seu redor aprovem aos seus filhos. A resposta casual de uma outra pessoa pode afetar a mãe durante o dia todo. Mas como as pessoas podem comunicar suas reações de forma responsável, se eles não percebem o que uma mãe faz ao cuidar de seu filho? Não que eles não se importem.

A maioria das pessoas tem uma opinião muito clara sobre como devemos educar nossos filhos. Mas quando eles vêem uma mãe sentada tranquilamente com seu bebê, não conseguem ver nada específico. Não é a idéia que tem a maioria das pessoas do trabalho de uma mãe.

Esta falta de compreensão é mais evidente se considerarmos uma criança um pouco mais velha. Por exemplo, podemos observar uma mãe e seu filho em um supermercado. A mãe está lidando com isso de várias maneiras ao mesmo tempo. Ela esta mostrando o comportamento considerado adequado para um garoto da sua idade, em um lugar público. Está demonstrando também como se comportar em um supermercado ao dizer-lhe para não jogar as coisas fora das prateleiras e que não é para encher a cesta com tudo o que tenha ao alcance da mão, senão que os produtos são escolhidos e pagos por eles.

Ela está mostrando para ele seus valores pessoais para comprar, por exemplo, através de cálculo de preços, ou dando prioridade à velocidade e mostrando como ela se relaciona com os funcionários. Não sendo ensinado em sentido estrito, mas compartilhando seu mundo com ele, e isso é desgastante. Tudo custa o dobro do tempo, e deve continuamente desviar a atenção do mundo dos adultos de compras, para o mundo infantil do pequeno companheiro. Se houver algum conflito, você tem que mediar entre estes dois mundos.

Mas agora chegamos a uma falta de compreensão. Se você perguntar para a mãe ao supermercado que eles estão fazendo, certamente responderia: "compra". Se perguntarmos aos outros compradores e aos funcionários o que eles acham que está fazendo a mãe, a maioria diria "comprar". No entanto, a mãe está fazendo dois trabalhos, não apenas um.

O segundo é um trabalho silencioso, que deriva do primeiro. Ele não tem um nome específico. Quando uma criança começa a escola, os professores falam sobre a importância da "socialização". No entanto, quando uma mãe socializa a criança de forma gradual fazendo muitas outras coisas, não é levado em conta, porque todo mundo pensa que esse ato é apenas "comercial".

Se a atividade da mãe limita-se a "comprar", entao a companhia de seu filho vira um impedimento. Ela a força a ir mais devagar e a impede de fazer as coisas com a sua habitual eficiência. Mas se nós reconhecemos que tudo isso é parte de seu trabalho, podemos redefinir a sua tarefa de "cuidar e comprar." Isso daria ao seu filho uma posição legítima em suas ações. Ele explica também que uma mãe possa ficar tão cansada e irritada após a compra. Dois trabalhos são mais do que um.

E é ainda mais difícil se você ignorar o segundo e acredita ter feito apenas o primeiro. Em vez de estar satisfeita por ter combinado duas funções razoavelmente bem, geralmente acaba com raiva de si mesma por ter feito apenas uma, e aparentemente errada.

Quando a mãe e o filho chegam em casa, costumam aparecer outros exemplos dessa falta de entendimento. Quando ela faz compras, vê os resultados de seus esforços. Mas olhando para o seu filho, você não vê uma grande mudança. Você tentou ser paciente com ele, mas parece cansado e irritado, e ele pode estar com fome. O que tem servido todos os esforços maternos?

Como uma mãe lamentou: "Quando você está trabalhando, você sabe o que você fez durante o dia. Você tem feito muitas ligações, escreveu muitas cartas e conta com provas de tudo isso. Mas quando eu olho meu filho, depois de trabalhar o dia todo, eu penso: Onde está a diferença? Para onde foi todo o meu esforço materno?”Não desapareceu, mas é difícil de reconhecer. É lá, na frente dela. Seu filho está com raiva, neste caso, pode ser porque ele tem cuidado bem. Não está zangado com ela, mas para ela. A diferença é crucial, mas fácil de entender mal. Uma criança irritada depende de sua mãe, e espera coisas dela. Espera mais dela do que de outros porque ela esta perto dele e parece que tem mais capacidade de compreendê-lo. Normalmente ele tem certeza de que sua mãe vai resolver tudo.

"Um bebê que chora muito pode fazê-lo porque tem uma relação estreita com a mãe”, apontavam dois perspicazes pesquisadores de um hospital de Londres. Mas isso vai contra uma suposição cultural generalizada segundo a qual, se um bebê chora muito e uma criança faz birra para sua mãe é porque o relacionamento é ruim. Portanto, infelizmente, a maioria das mães não consideram como um elogio que os seus filhos chorassem ou ficassem zangados. Raiva infantil, que poderia indicar o quanto eles confiam em suas mães, muitas vezes é interpretado como evidência de falha materna.

Os bebês normalmente não confirmam que as mães fazem as coisas direito. Para tranqüilizar a mãe que seu filho, ocasionalmente, poderia dizer: "Se anima, mãe! Você está se relacionando muito bem comigo”. Mas os bebês não podem fazer isso. A mãe pode se sentir muito sozinha e incompreendida nessas primeiras semanas. (...)

Uma intensa desorientação
As frases mais repetidas pelas mães são "não faço nada" e "não consigo fazer nada". Assim é como elas descrevem a sua experiência. Devemos ouvir cuidadosamente e perguntar o que significa "fazer nada". Antes era suposto falta de "fazer algo". Mas ouvir o que as mães dizem, parece que é uma experiência em si. (...)

Quando a mãe considera sua maneira de usar o tempo como "não fazer nada" é incapaz de ver o que ele faz como parte de uma mudança desejável e significativa. Como não há mudança, pode pensar que a ação (ou omissão) para ficar com seu bebê materno não tem valor.

Isto contrasta com a opinião popular que as mães estão sempre ocupadas. A "mãe ocupada" é quase um clichê. Esse termo sugere uma série de ações úteis e visíveis. Mas a vida de um bebê durante os primeiros seis meses não pode ser ativa em absoluto. É geralmente lenta.

Por exemplo, uma mãe não pode apertar um botão para a aceleração quando estiver amamentando seu filho. Ele mama, pára, olha para sua cara por um tempo, continua mamando, fecha os olhos e adormece, mas acorda imediatamente para continuar mamando se ela se move. Ocupada? Até a sua mente parece ir devagar. Mais tarde ela pode ficar um pouco ocupada limpando, organizando e fazendo ligações. Mas estas ações são menos relacionadas com o fato de ser uma mãe. Têm mais a ver com o cuidar da casa, o resto da família e de si mesma.

Todo esse tempo ela permanece com o seu bebê. Esse relacionamento invisível é que a faz pensar que "não faz nada". Em vez de lidar com uma longa lista de tarefas, reduziu o seu ritmo de vida para se adaptar ao seu bebê. Para alguém acostumado com a velocidade da vida urbana, o contraste é enorme.

Ela também tem que renunciar à sua consciência ativa e ter acesso a alguma coisas mais simples e mais antiga para abordar o mundo com seu bebê. Não é fácil. No entanto, aí achamos a chave para essa relação transcendental entre os dois. Longe de ficar fazendo nada, está fazendo tudo.
Site oficial: Naomi Stadlen

6 comentarios:

  1. Lembro do dia que você me disse que a Julia pede muito colo porque sabe que tem uma mãe que vai dar o que ela quer. E que isso é bom. Mudou meu jeito de ver as coisas...
    Continua sendo complicado para mim aceitar que praticamente 100% do meu tempo é para ela. Sou como o livro diz - acho que não fiz nada o dia todo se não dei baixa na minha listinha de tarefas.
    Mas aos poucos vou entendendo que agora ela precisa de mim e que eu preciso dela.

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  2. Pois é... eu lembrei muito de você e das nossas conversas enquanto eu lia o texto... É um sentimento que nos atinge a todas, né?

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  3. Puxa, eu nunca tinha visto as coisas dessa maneira... quando eu chego em casa alguém (geralmente uma das avós) diz: "mas a Sara estava ótima! foi só você chegar que começou a chorar e a reclarmar". Isso sempre me deixou irritadíssima. Mas hoje será diferente... :o)

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  4. Esse texto diz tudo! Grandes beijos e obrigada por nos indicá-lo, é um excelente presente de dia das mães!

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  5. Elena, parabéns pelo blog e pelo lindo trabalho! Vamos juntas em nossas buscas pela completude da mulher. Serei sua seguidora! Beijos da Duda

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